A falta que um Churchill faz

Rodrigo Chamoun

Winston Churchill não foi apenas um comandante em tempos de guerra, mas foi, sobretudo, uma força civilizatória que, em meio à escuridão da Segunda Guerra Mundial, ergueu a tocha da razão, da dignidade e da esperança. Enquanto bombas reduziam cidades a escombros, suas palavras galvanizavam uma nação e reacendiam a fé da humanidade na liberdade.

Foi ele quem, ao lado de Franklin D. Roosevelt, plantou as sementes de uma nova ordem mundial, fundada na cooperação entre os povos, na reconstrução da Europa e na consagração do multilateralismo como pilar da paz duradoura.

Churchill venceu com armas, sim, mas especialmente com ideias. Compreendia que, para além da vitória militar contra o nazismo, era imperativo construir uma paz baseada em pontes, não em muros. Sua defesa de um pacto entre nações inspirou a fundação da ONU (Organização das Nações Unidas), lançou as bases da integração europeia e sinalizou a um mundo exaurido pela violência que a liderança verdadeira exige sacrifício, visão de longo prazo e compromisso inegociável com valores universais como: liberdade, democracia e responsabilidade histórica.

Hoje, esse legado encontra-se sob ameaça concreta. Vivemos a ascensão do isolacionismo, do nacionalismo protecionista, da política da confrontação e da guerra tarifária. Em vez de fortalecer alianças históricas, líderes extremistas empenham-se em erodi-las com fatos unilaterais, retórica beligerante e desprezo deliberado pelas normas que regem a convivência civilizada entre as nações.

O mundo está à deriva. Churchill sabia que liderar é fazer História. Outros agem como Nero — diante de Roma em chamas, não apenas provocam o incêndio: tocam lira enquanto o mundo ruge.

Em tempos de transição e de incerteza, o mundo não precisa de incendiários, mas de estadistas; não de egos inflamados, mas de consciências lúcidas que saibam conduzir as nações com confiança coletiva.

É imprescindível que a conduta dos líderes, nacionais e institucionais, não erre o rumo. Há um crescente desalento da população com o presente, que, aliado à incerteza do futuro, dissolve a coesão social, alimenta o medo e dá margem à intolerância. Alguém que “ponha ordem” não é, necessariamente, alguém que inspire esperança. A força do grito não substitui a serenidade da razão.

A figura de um “Novo Churchill” não atrai justamente porque ele não prometeria a vitória sem sofrimento e fúria, a liberdade dos tolos sem as frustrações, muito menos a vitória sem o custo da civilização.

A ausência de um Churchill, hoje, não é apenas simbólica, também é um vácuo perigoso. O mundo precisa, com urgência, de lideranças que compreendam que o sentido da História e a importância das instituições não está, como Churchill bem sabia, em agradar a maioria do momento, mas em garantir que o futuro da humanidade não seja um eco do seu passado mais sombrio.

Churchill dizia que a política é quase tão excitante quanto a guerra e que seu maior mérito está no fato de que os seus ferimentos não são letais. Hoje, o desafio é justamente evitar que o colapso da política arraste consigo a própria civilização.

Rodrigo Chamoun é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo

Artigo originalmente publicado no jornal Tribuna Livre em 15.04.2025