Repórter da Rede Globo refletiu sobre o papel do jornalismo e dos Tribunais de Contas na garantia da transparência
O auditório lotado do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina testemunhou, na manhã desta terça-feira (14/02), em Florianópolis, mais de três décadas de história dedicadas ao jornalismo e à prestação de serviço à sociedade, durante a Conferência Magna do Congresso Nacional dos Tribunais de Contas (CNCTC), “Informação: um ativo público”, com a jornalista Sônia Bridi.
O presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), Cezar Miola, saudou a jornalista por sua contribuição para a democracia. “Não se concretiza a democracia, o espírito republicano e a Constituição se não combatemos a discriminação e a desigualdade. Não se pode falar em democracia, se tivermos irmãos famélicos e à beira da morte. Você Sônia, portanto, traz uma grande contribuição à democracia, com uma abordagem firme e serena, que nos leva à reflexão, movimenta nossas crenças e estimula a construir, como diz a nossa Carta Magna, o bem de todos”, elogiou o presidente da Atricon.
O conselheiro do TCE-SC e membro da diretoria da Atricon, Adircélio de Moraes Ferreira Júnior, recepcionou a jornalista, natural de Caçador, manifestando sua admiração pela profissional. “Ilustre palestrante, verdadeira celebridade catarinense, o que nos orgulha, mas acima de tudo uma cidadã do mundo”, destacou o conselheiro. Às boas-vindas terminaram com a fala da presidente da Associação Catarinense de Imprensa, Deborah Almada, colega de Sônia no início da carreira. “Fico feliz de estar ao lado de uma amiga de quase quarenta anos. A presença dela é uma homenagem ao jornalismo”, concluiu Deborah.
Exemplificando o valor da informação como artigo essencial para o controle social, Sônia Bridi revelou bastidores da reportagem sobre o resgate de indígenas da tribo Yanomami, vítimas da fome, desnutrição, malária e, sobretudo, do garimpo ilegal. Sônia contou que a equipe de jornalismo da Globo havia tentado, pelo menos outras quatro vezes, sem sucesso, denunciar o crime humanitário em Roraima, no ano passado. “No entanto, nós não tínhamos acesso a informações, autorização e segurança para chegar lá. Havia uma intenção deliberada de que não se soubesse o que estava acontecendo ali. E o que a gente não sabe, a gente não consegue mudar. Felizmente agora há consequências e ações para coibir o garimpo”, afirmou a repórter.
Especialista em jornalismo ambiental, Sônia Bridi falou sobre necessidade de se fazer chegar informações complexas à população. Obstáculos, segundo ela, compartilhados tanto por quem precisa comunicar sobre o meio-ambiente, quanto sobre contas públicas. “Não se deixem intimidar pela complexidade das informações. Insistam em levar essas informações, desvendá-las e traduzi-las à população. Vocês (os Tribunais de Contas) têm informações poderosas sobre tudo o que acontece dentro do estado. Cada centavo gasto. Quanto mais aberto isso for, melhor para a sociedade. Desta forma, como no caso dos Yanomami, haverá consequências. Se o Brasil não tivesse visto aquelas imagens, será que o apoio contra o garimpo seria tão grande como está sendo agora?”, questionou a jornalista.
Por fim, Sônia Bridi defendeu o papel do jornalismo na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. Para ela, o jornalismo não é sobre dizer o que se quer ouvir, mas sobre o que precisa ser dito com o objetivo de proporcionar ao espectador a chance de tomar decisões conscientes para o seu futuro. “O bom jornalismo é feito para defender o interesse público. Como dizia Belchior: palavras são navalhas, e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém”, finalizou a repórter – sob aplausos do público.
O CNCTC é uma promoção do Tribunal de Contas de Santa Catarina (sede do evento), da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), da Associação Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municípios (Abracom), do Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC) e do Instituto Rui Barbosa (IRB), com o apoio da Acaert.