A imbecilidade seus desdobramentos

João Antonio

A imbecilidade, em sua definição mais simples, refere-se à falta de inteligência, discernimento ou bom senso. No entanto, essa definição isolada pouco nos diz sobre o real impacto da imbecilidade na sociedade. Nem toda limitação cognitiva pode ser encarada como um problema moral, pois há razões diversas para que um indivíduo não compreenda o mundo ao seu redor. Fatores como falta de acesso à educação, barreiras sociais e condições biológicas podem restringir o entendimento de certas realidades, tornando essas formas de imbecilidade justificáveis e até compreensíveis.

O problema mais preocupante, contudo, não reside nesses casos, mas sim na imbecilidade que nasce da escolha deliberada. Há aqueles que, mesmo dotados de plena capacidade mental, formação intelectual e acesso à informação, optam por ignorar a realidade coletiva em favor de seus próprios interesses. Esse tipo de imbecilidade não decorre de limitações naturais, mas de uma postura egocêntrica e descomprometida com a vida em sociedade. O indivíduo que se recusa a enxergar além de sua bolha pessoal, que negligencia a responsabilidade coletiva e age apenas em benefício próprio, demonstra um grau de estupidez mais perigoso do que a ignorância involuntária.

A imbecilidade voluntária se manifesta de diversas formas, mas suas motivações frequentemente se resumem à ganância, ao desejo ilimitado de poder ou à vaidade. O sujeito que subjuga os interesses coletivos para satisfazer suas ambições pessoais contribui ativamente para a desarmonia social. Ele não apenas ignora as consequências de seus atos, mas muitas vezes busca justificá-los com discursos egoístas, travestidos de mérito e suposta liberdade individual. Nessa perspectiva, a imbecilidade deixa de ser apenas um traço pessoal e passa a ser um problema estrutural, com impactos concretos no bem-estar da sociedade.

A civilização é construída sobre a interação entre indivíduos e suas escolhas. Nenhuma sociedade se sustenta sem algum grau de solidariedade, cooperação e responsabilidade mútua. Quando a imbecilidade movida pelo egoísmo se torna predominante, a coesão social se enfraquece, gerando desigualdade, conflitos e instabilidade. O verdadeiro perigo, portanto, não está na falta de inteligência em si, mas na recusa consciente de enxergar a importância do coletivo e agir em prol dele.

Dessa forma, a imbecilidade que mais ameaça a humanidade não é aquela derivada de limitações naturais, mas a que nasce da indiferença e do egocentrismo. O mundo não se degrada apenas pela ação de pessoas mal-intencionadas, mas também pela negligência daqueles que, podendo fazer a diferença, escolhem o individualismo cego por mera ambição. Combater essa forma de imbecilidade exige mais do que conhecimento ou inteligência; requer consciência ética e um compromisso genuíno com o desenvolvimento integral da sociedade. Uma comunidade saudável pressupõe um ambiente coletivo harmonioso, onde as diferenças não sejam motivo de desunião, mas sim um estímulo para a construção de acordos duradouros e sustentáveis.

João Antonio é conselheiro do TCM-SP e vice-presidente da Atricon