Os desafios para o enfrentamento à desinformação e o trabalho de investigação desenvolvido pelo Projeto Comprova foram objeto de abordagem de Sérgio Lüdtke, na manhã desta quarta-feira (15/2), durante palestra realizada no I Congresso Nacional de Comunicação dos Tribunais de Contas (CNCTC), na sede do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC). A coordenação do painel foi feita pelo conselheiro Gilberto Jales, do TCE do Rio Grande do Norte, e a mediação pela jornalista Débora Meth, do TCM do Rio de Janeiro (fotos). “Nada melhor para combater a desinformação do que se ter uma boa informação”, salientou o conselheiro, ao destacar que “os Tribunais de Contas têm esse repositório”.
O editor-chefe do Comprova e coordenador de cursos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considera importante a educação midiática, para as pessoas elevarem o nível de análise crítica com relação à informação que recebem. “Mas, também, é preciso que haja espaço para alguma regulação, responsabilizar as plataformas para que elas tenham ações mais efetivas com relação a isso. Só o jornalismo sozinho não resolve o problema da desinformação. As ações precisam ser realizadas em conjunto para um efeito mais rápido”, pontuou.
Aprender a lidar com a desinformação e compreender os seus mecanismos de funcionamento para não a amplificar; entender que o jornalismo baseado em declarações pode ser um instrumento da desinformação disseminada com propósitos políticos; apresentar mais contexto para os leitores na contramão da fragmentação do meio digital foram alguns dos desafios mencionados por ele.
Ele citou, ainda, a necessidade de o jornalismo priorizar fatos, levando em conta a precisão e a análise informada e especializada e reduzir a carga de opinião engajada; ser transparente e mostrar-se disposto a ouvir e a entender as ansiedades da audiência, sem, no entanto, abrir mão dos princípios editoriais; ser sustentável para ser independente; e, apesar de tudo, ser relevante, confiável e atrativo. “A desinformação diz mais sobre política do que sobre verdades, pois tem a necessidade de mudar versões”, afirmou.
Ao falar sobre o Projeto Comprova, o palestrante informou que se trata de uma iniciativa para descobrir e investigar informações suspeitas compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens pelos cidadãos. Segundo ele, o trabalho é desempenhado de forma colaborativa por jornalistas de diversos veículos de comunicação, sendo necessário o consenso de, pelo menos, três veículos, para a publicação de determinada matéria. “O nosso compromisso é com erro zero”, enfatizou.
Como exemplos de divulgações que resultaram na desinformação, Sérgio Lüdtke destacou os movimentos de combate à corrupção, promovidos em junho de 2013; a Operação Lava Jato; o impeachment, o financiamento de campanhas eleitorais por empresas. “A desinformação virou multiplataforma”, comentou. Para ele, a prática “tem sido legitimada pela política, as redes viraram espaço para ataques às instituições e os influenciadores transformaram-se em atores políticos e partidários”.
O evento, encerrado no começo da tarde, foi promovido pelo TCE/SC, pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), pela Associação Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municípios (Abracom), pelo Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC) e pelo Instituto Rui Barbosa (IRB), e contou com o apoio da Associação Catarinense das Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert).