COVID-19 testa nosso senso de humanidade

Sem precedente, crise do COVID-19 testa nosso senso de humanidade

Como ressaltamos no artigo anterior, não há espectadores na tragédia representada pela disseminação planetária do novo coronavírus.

Somos todos personagens do drama global e, portanto, vítimas potenciais da COVID-19, a depender, em grande parte, do quanto estamos dispostos a seguir rigorosamente as regras de isolamento social impostas pelas autoridades.

Na última semana, a pandemia expandiu seus contornos de catástrofe em nações como Itália, Espanha e Estados Unidos – para citar três países com sistemas de saúde situados entre os melhores do planeta –, o que permite projeções dramaticamente sombrias sobre a disseminação do novo coronavírus entre as populações mais vulneráveis ao redor do mundo.

Embora expresse a dimensão global da tragédia sanitária e humana, a expressão “ao redor do mundo” talvez não seja a mais adequada para realidade tão dramática, presente e próxima.

O mais adequado será falarmos de uma calamidade que se dá “ao redor de nós”, ou seja, da qual, como seres humanos e como sociedade, não sairemos ilesos, ainda que individualmente ao final muitos não tenham sido alcançados pelo “inimigo invisível”.

No Brasil, como sabemos pelas advertências das autoridades sanitárias e da unanimidade de especialistas independentes, ainda não vivenciamos o ápice da disseminação do novo coronavírus.

Quando isso ocorrer, nos próximos dias, semanas ou meses, serão postos à árdua e duríssima prova não só nossas estruturas de saúde – sabidamente precárias fora dos grandes centros –, mas, principalmente, o espírito de solidariedade e o senso de responsabilidade coletiva que devem nos moldar como Nação e nos irmanar como sociedade civilizada.

Sem alarmismo ou pânico, somos advertidos, por prognósticos responsáveis, de que se avizinham tempos de graves e difíceis provações, quando serão exigidos sacrifício e altruísmo de todos quantos tenham senso de humanidade e íntimo compromisso moral, ético e social com a coletividade.

Não está, em absoluto, fora de questão que, mais à frente, todos nós, os que temos emprego assegurado e remuneração garantida, sejamos compelidos a abrir mão de parte dela, diante das contingências impostas pela brutal crise social, econômica e humanitária que se desenha no horizonte próximo.

Com quase doze milhões de desempregados, outros milhões de subempregados, informais e desalentados, e 13,5 milhões vivendo em condições subumanas, não será catastrofismo prever o potencial de desastre social e humanitário representado pela pandemia do coronavírus, no caso mais que provável – sempre segundo autoridades e especialistas – de que ela se alastre pelo país.

É nesse cenário, dramaticamente previsível e próximo, onde teremos de dar provas de que, unidos pelo espírito de solidariedade e pelo mais elevado senso de grandeza individual e de responsabilidade coletiva, seremos capazes de vencer a mais grave crise a desafiar a sociedade global neste século.

Em algum momento esta pandemia, como as anteriores, se extinguirá. E, há fundadas razões para esperarmos que a Humanidade como um todo sairá dela mais fortalecida em seus valores e princípios transcendentes.

Porém, enquanto indivíduos, dependerá da grandeza de espírito, da concreta solidariedade – não do discurso fácil e farisaico dos que a defendem à custa do sacrifício alheio – e compaixão de cada um de nós, se emergiremos como seres humanos dignificados pelo sacrifício e a renúncia, ou amesquinhados pelo individualismo que costuma proliferar como vírus em tempos extremos.

*Iran Coelho das Neves é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.