Desde logo, alerto e reconheço que o conteúdo deste texto bem pode fazer jus ao óbvio ululante, de Nelson Rodrigues. Mas até as platitudes, por vezes, precisam ser ditas.
Recente pesquisa do Instituto Data Popular, publicada pelo Estadão, concluiu que, ainda que só 3% dos brasileiros afirmem ser corruptos, 70% admitem ter tomado ao menos uma atitude corrupta durante a vida. E mais: mesmo se considerando honestos, 80% conhecem alguém que cometeu algum tipo de ilegalidade.
Se a corrupção nos parece normal, é também porque muitas das nossas atitudes, incluindo a omissão, assim o permitem. Se ela é inerente à condição humana, resta indagar como reagimos a esse mal.
O “fazer o que é certo” parece tão elementar, mas dele nos afastamos frequentemente. Com facilidade exigimos a concretização de direitos, mas nem sempre nos dedicamos com o mesmo vigor aos nossos compromissos.
Nós, servidores públicos de diferentes áreas, e agentes políticos temos grande responsabilidade nesse processo. E a síntese desse múnus diz com o prestar serviços à sociedade, em qualquer poder ou órgão, de forma transparente, ágil, proba, eficiente, impessoal e dignamente remunerada.
Já indivíduos e empresas fazendo o que é certo pagam os tributos devidos. Não corrompem e não se deixam corromper. Ajudam a cuidar dos espaços de uso comum e do trânsito, das condições de saúde, higiene e sustentabilidade. Zelam pelas relações de consumo. Enfim, praticam a virtude que predicam. Assim legitimados, podem e devem cobrar competência e eficácia dos demais.
Bem – e ainda insistindo com os lugares-comuns -, cabe reconhecer que, no mundo real, as coisas não funcionam exatamente assim. Há desvios os mais diversos na seara pública e nas relações particulares. Tais disfunções devem ser tratadas no âmbito das leis, dos princípios e dos valores consolidados pela civilização.
Então, é mesmo bem simples: para afirmar-se a democracia e o regime republicano, o essencial é cumprir as normas, fazendo sempre o bem e sempre bem, inclusive na hora de votar. E ainda que soe ingênuo, acredito que vale lutar por isso.
Cezar Miola é Conselheiro Ouvidor do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul