Nesta terça-feira (6), servidores do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA) trocaram a lupa da fiscalização pelo olhar atento ao bem-estar durante a segunda edição do Corregedoria Day. O evento, que foi realizado na sala de treinamento da Escola de Contas do TCE/BA, promoveu um debate conduzido pela psicanalista do Serviço de Assistência Social do TCE-BA, Norbélia Cristina Mato Grosso, sobre saúde mental e estratégias para cultivar um ambiente de trabalho mais leve e acolhedor.
Desenvolvido pelo Instituto Rui Barbosa (IRB) junto aos Tribunais de Contas do país, o Corregedoria Day é uma ação que busca aprimorar as Corregedorias, setor presente em todas as Corte de Contas, responsável por aperfeiçoar os processos de governança e gestão, além de orientar, fiscalizar e avaliar as atividades funcionais e a conduta de seus membros e servidores.
A iniciativa do evento, que teve a primeira edição realizada em 2024 com o tema “Conscientização e combate ao assédio moral e sexual nos Tribunais de Contas”, também se apoiou na celebração do Dia Nacional da Ética, comemorado em 2 de maio. Na abertura da segunda edição do Corregedoria Day no TCE/BA, o conselheiro-corregedor, Gildásio Penedo Filho, destacou a importância de abordar as questões relativas à saúde mental, tendo em vista que mais de 80% da população brasileira sofre com algum transtorno, como ansiedade e depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“E o serviço público, que é uma parte dessa sociedade, também mostra, por muitas vezes de forma silenciosa, alguns desses fatores. Então esse é um dado que inspira a Corregedoria e o Tribunal de Contas sobre a questão da gestão, principalmente com o foco na boa saúde dos servidores, porque um servidor com saúde mental, em todos os aspectos, ele produz mais, ele traz mais contribuições e revela o seu potencial”, disse Gildásio.
Em seguida, o conselheiro Inaldo Araújo, que é vice-presidente de auditoria do IRB e diretor da Escola de Contas do TCE-BA, setor que promoveu o evento em parceria com a Corregedoria, enfatizou a relevância de instituições como o Tribunal de Contas e o Instituto Rui Barbosa organizarem ações que valorizem os seus servidores. Para ele, uma das melhores coisas para a saúde mental é a convivência familiar.
“Eu conversava muito com Norbélia, e ela me mostrava que, de fato, as coisas na vida são simples e, por isso, é importante tratar deste tema da saúde mental. E eu vou dizer para vocês que um bom remédio para isso é ser avô. Para mim, de fato, é uma verdadeira terapia, é um verdadeiro renascimento. Então, por tudo isso, é um prazer passar a palavra para a palestrante, para que ela faça com vocês o que fez comigo nos caminhos da vida”, finalizou Inaldo, que esteve presente na abertura do Corregedoria Day ao lado do vice-presidente do TCE-BA, conselheiro Antonio Honorato.
Autoconhecimento
Para iniciar o evento com os servidores, a psicanalista do TCE-BA apresentou a frase “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, do psiquiatra suíço Carl Jung.
“Você pode ser especialista no que for, mas se quando for falar ou escutar alguém não se colocar na posição de uma alma humana falando com outra absolutamente igual nas suas diferenças e particularidades, não vai acontecer absolutamente nada”, afirmou Norbélia Mato Grosso, enfatizando que o encontro não seria uma palestra, mas um bate-papo sobre os assuntos que englobam a saúde mental, que, de acordo com ela, não significa a ausência de doenças, mas a forma como as pessoas lidam com as questões do dia a dia.
“Eu gosto muito do exemplo do pneu furado. Algumas pessoas se desesperam, outras fecham o carro e saem, ou chamam o guincho, ou trocam o pneu. São alternativas. O pneu é uma contingência e é uma metáfora das histórias que podem acontecer na vida da gente e na vida de todo mundo”, exemplificou.
Apesar de ser positivo o fato de que a sociedade está se tornando cada vez mais atenta sobre a importância do autoconhecimento para saber como driblar as dificuldades, Norbélia alertou para o problema do autodiagnóstico e medicação diante de transtornos como ansiedade, depressão e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
“Não existe uma mera leitura sobre o processo terapêutico, ele é muito rico e complexo. Nós somos como plantinhas, umas não são de muita rega, nem de muita poda, cada corpo é diferente. Então a forma como vamos expressar nossas emoções também é, e é preciso um trabalho plural. Não é só o remédio que vai resolver, o tratamento pode incluir terapia ou outros meios de intervenção que possam ajudar, de forma individual, na sua saúde mental, como a religião, por exemplo”.
Saúde no trabalho
Tópico central do Corregedoria Day, a saúde mental no ambiente de trabalho foi abordada pela psicanalista como uma questão que envolve diferentes fatores, como rotina, cobrança, estabilidade, reconhecimento, pressão e hierarquia. Norbélia falou para os servidores que a estabilidade é o principal deles quando se escolhe uma carreira no setor público, mas é preciso compreender que todos fazem parte do trabalho cotidiano.
“Eu vejo como ficam os técnicos na hora de entregar trabalho, os chefes cobrando, e eles também, com a pressão interna. Eu mesma, quando estava estudando para esta palestra, fiquei pensando se meus colegas não vão me julgar, eu mesma me senti pressionada. Muita gente fica presa a isso, mas eu sou essa aqui e eu sei do que estou falando”.
Logo depois, a palestrante propôs uma dinâmica com os servidores, fazendo três perguntas: “Quem já dormiu bem, mas mesmo assim acordou cansado?”, “Quantas vezes já pensamos em desistir por causa do estresse?” e “Quem acha que não tem mais tempo para si?”. Ao receber a resposta positiva da maioria, ela colocou em evidência como, apesar da individualidade da existência humana, todos compartilham desafios semelhantes.
Para Norbélia, uma forma de amenizar o peso da rotina no serviço quando não conseguimos separar as dificuldades da vida privada é praticar a escuta ativa entre os colegas. “Escutar é uma atividade que requer intencionalidade. Não é uma coisa da gente ler o texto, é ler o que não está sendo dito. Porque às vezes a gente não diz só com palavras, a gente diz com o nosso corpo se estamos bem ou não”.
Aproveitando a fala, a servidora Jussara Fidélis, psicóloga do Serviço de Assistência Social do TCE-BA, ressaltou que “escutar uma pessoa pode ser um processo de terapia. Você dá o seu ouvir, a pessoa te escutar, já ajuda”.
Em concordância, o servidor Elson Queiroz, assessor da Gerência Administrativa do Tribunal, fez um relato pessoal, afirmando que foi o acolhimento de outros colegas de trabalho que o ajudaram em momentos difíceis. Na visão dele, é muito importante promover mais eventos que discutam sobre a saúde mental, que muitas vezes é menosprezada.
Segundo Norbélia Mato Grosso, o TCE-BA já realiza ações que podem auxiliar os servidores, como o apoio psicológico institucional, serviço médico, nutricionista e programas mensais de saúde e bem-estar. “O apoio psicológico conta com cinco profissionais, incluindo psicanalistas e psicólogos, e já existe há cerca de 30 anos, sendo caracterizado pela escuta ativa, focando em compreender plenamente as necessidades dos colaboradores. Embora muitos não compareçam, as consultas podem ajudar a resolver questões pontuais, proporcionando alívio emocional ao permitir que as pessoas expressem o que sentem”, garantiu a psicanalista.
Durante o encerramento do evento, que contou com uma atividade em que os servidores contaram sobre ações que fazem para relaxar, como ler, escrever, meditar e cantar, o assessor do gabinete do conselheiro-corregedor, Cristiano Pereira Rodrigues, enfatizou que “esse é o momento em que a Corregedoria está saindo daquela questão de só atuar na correção e na punição, passando a desempenhar um trabalho pedagógico e orientador para o corpo técnico e servidores”.
Com informações da Assessoria de Comunicação do TCE-BA