“Viver é a arte de discernir: separar o verdadeiro do falso, o gesto oportunista da boa intenção genuína, o mal disfarçado do bem autêntico, o mau caráter do bom coração. É um exercício contínuo de sensibilidade e sabedoria.”
João Antonio
Quando olho ao meu redor, sinto-me envolto por uma forma sutil de proteção. Não é a força bruta que me resguarda, mas a solidez das relações sinceras, cultivadas ao longo dos caminhos que a vida me permitiu trilhar.
Viver é a arte de discernir: separar o verdadeiro do falso, o gesto oportunista da boa intenção genuína, o mal disfarçado do bem autêntico, o mau caráter do bom coração. É um exercício contínuo de sensibilidade e sabedoria.
Os amigos verdadeiros, aos olhos do coração, não possuem defeitos; e quando neles percebemos alguma falha, a correção se entrelaça naturalmente à sinceridade, sem ferir, mas antes fortalecer a relação. Entre amigos, a crítica é ternura, e a discordância, sinal de confiança.
A amizade sincera é uma forma de comunhão com a verdade: é trazer para junto de si a presença serena da autenticidade. É sentir-se inteiro, sem máscaras, integrado ao espaço e ao tempo, como se a existência, por meio dessa ligação, se tornasse mais leve e mais verdadeira.
A amizade, em sua expressão mais pura, é a celebração da verdade partilhada. É a possibilidade rara de existir sem defesas, de ser aceito sem a necessidade de disfarces. É integrar-se plenamente ao espaço comum criado pelo afeto mútuo, onde o tempo perde a sua urgência e a vida revela um sentido mais pleno e mais sereno.
A amizade é, enfim, o reconhecimento de que, na travessia da existência, não estamos — e não precisamos estar — sós.
João Antonio é conselheiro do TCM-SP e vice-presidente da Atricon