Um Prêmio com o nome de um grande mestre

Marcos Navarro

O jornalismo me proporcionou muitas experiências marcantes. Desde quando ingressei na Faculdade de Comunicação da Ufba, em 1985, até os dias de hoje, foi grande o número de histórias repletas de pessoas que tanto me ensinaram. E um desses mestres da boa prosa foi o jornalista Inaldo Sampaio, que nos deixou em 2019. Conheci Inaldo em 2013, em um evento realizado no Tribunal de Contas do Mato Grosso do Sul. No início, ele se mostrou meio desconfiado, um sujeito caladão, sorrindo de esguelha para os comentários que eu fazia sobre a matéria do encontro. Pouco a pouco, a gente foi quebrando o gelo com calorosas conversas sobre os Carnavais do Recife e de Salvador. Aí não teve jeito. Ele, de lá, quase fazendo mesuras na ponta do pé; e eu, de cá, com os acordes da guitarra baiana, não tardamos a consolidar uma amizade marcada pelo frevo.

Sim, Inaldo trazia o orgulho do pernambucano convicto. Quando o assunto era frevo, então, a prosa ganhava volume de orquestra, e entre um “causo” e outro, surgiam os expoentes do gênero, como Nelson Ferreira, Capiba, Duda… e até o saudoso baiano Moraes Moreira, para que eu, humildemente, desse o ar da minha graça e marcasse pelo menos um pontinho, atrás do nosso trio elétrico. Com o tempo, descobri que Inaldo era saxofonista. Certa vez ele me presenteou com um CD da sua banda, a Pinga Fogo, que guardo até hoje. Aconteceu durante um jantar na casa dele, no bairro Cajueiro, no Recife, onde fui recebido com carinho pela sua bela família. Na tranquilidade da varanda, ouvi o CD de repertório animadíssimo. E pra arrematar, em seguida, a pergunta com a conjugação verbal mais charmosa do Nordeste: “Gostaste, baiano?”.

No falar pernambucano, nada é mais típico do que essa conjugação, que faz a memória se embalar ao som de um dos maiores ritmistas do país. É como Jackson do Pandeiro diz, na Cantiga do Sapo: Tião? (Oi!) / Foste? (Fui!) / Compraste? (Comprei!) / Pagaste? (Paguei!) / Me diz quanto foi (foi 500 réis). E por esse caminho ia Inaldo, marcando, com palavras precisas, o ritmo da vida e do mundo da política. A vasta experiência acumulada nos jornais em que atuou fez dele um colecionador de histórias engraçadíssimas, protagonizadas por presidentes, prefeitos, governadores, deputados, vereadores e cabos eleitorais. Tive a oportunidade de ouvir muitos desses “causos”, contados com extremo bom humor, nos bate-papos com Inaldo durante os Congressos Nacionais dos Tribunais de Contas, nos quais também tive o prazer de conviver com os amigos João Marcelo Sombra, Lídia Lopes e Luiz Felipe Campos, que formam o time de primeira linha da comunicação do TCE/PE.

É com grande satisfação que vejo o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco abrir as inscrições para a primeira edição do Prêmio Inaldo Sampaio de Jornalismo. O nome do saudoso colega e amigo nesta premiação tem uma força simbólica, tão valiosa foi a sua atuação no jornalismo e na comunicação corporativa do TCE/PE. Nada mais oportuno, num momento em que as Cortes de Contas buscam um diálogo próximo com os cidadãos. E nessa relação, vale e muito incentivar a produção de conteúdos nos meios de comunicação como forma de aperfeiçoar o controle externo, a gestão pública e garantir a cidadania. Parabéns a todos os organizadores da premiação. Estou certo de que, de algum lugar no outro plano, em sua Pasárgada com as cores de Olinda, Inaldo Sampaio sopra o metal e, com muita alegria, “na mistura colorida da massa”, incendeia a orquestra ao vibrar com a justa homenagem.

Marcos Navarro é gerente de Comunicação do TCE-BA