Você já refletiu sobre a importância dos opostos em sua vida?

João Antonio

“Entre dois polos opostos, o equilíbrio não se trata necessariamente de seguir o caminho do meio, mas sim de uma análise cuidadosa das circunstâncias. O verdadeiro equilíbrio, como já sugeria Aristóteles ao falar da phronesis (sabedoria prática), exige uma leitura sensível do contexto, permitindo-nos aproximar ora de um extremo, ora de outro, conforme as necessidades do momento.”

Você já parou para pensar sobre a importância dos contrários em sua vida? Os opostos, ou polos antagônicos, são fundamentais para a formação do pensamento humano e para a compreensão da realidade. Desde os tempos antigos, filósofos como Heráclito já afirmavam que a harmonia nasce da tensão entre os opostos, exemplificada na célebre frase: “a guerra é o pai de todas as coisas”. De fato, quase tudo pode ser entendido a partir da afirmação ou negação de algo: o “sim” só tem sentido em oposição ao “não”; valorizamos o silêncio porque conhecemos o barulho; e os sentimentos de raiva e ódio só são percebidos em contraste com a serenidade e o amor. Assim, os contrários não apenas coexistem, mas se complementam e impulsionam nosso entendimento do mundo.

Se olharmos para a dialética de Aristóteles, Hegel e Marx, veremos que todos reconhecem, de diferentes formas, o papel fundamental das contradições no desenvolvimento da realidade. Aristóteles compreendia a dialética como um método lógico de argumentação, onde a contraposição de ideias levava ao conhecimento mais apurado, baseado no princípio de não contradição. Hegel, por outro lado, enxergava a dialética como o próprio motor da história e do pensamento, em um movimento contínuo de tese, antítese e síntese, no qual as contradições são essenciais para o progresso do espírito. Marx, influenciado por Hegel, aplicou essa lógica ao materialismo histórico, defendendo que as contradições econômicas e sociais, especialmente a luta de classes, são a força motriz das transformações sociais.

No campo pragmático, como na economia e na política, a dialética se manifesta na luta entre diferentes forças sociais. A exploração do homem pelo homem, por exemplo, pode ser contraposta por políticas de distribuição de renda que buscam uma sociedade mais justa. Marx argumentava que o capitalismo se sustenta por meio de suas contradições internas e que o confronto entre burguesia e proletariado levaria a uma síntese revolucionária. Hegel, entretanto, via a realização da liberdade humana como um processo gradual de superação das contradições históricas, enquanto Aristóteles defendia um equilíbrio baseado na moderação e na busca pelo justo meio.

A história da humanidade, portanto, é movida por essas contradições, e é por meio delas que se produz o novo. O pensamento dialético nos ensina que o desenvolvimento ocorre em ciclos de conflito e superação, permitindo avanços na consciência individual e coletiva. Como afirmava Hegel, “o real é racional e o racional é real”, sugerindo que as contradições, por mais turbulentas que pareçam, fazem parte de um processo lógico de evolução. Assim, a compreensão dos opostos é essencial para aqueles que desejam interpretar e transformar o mundo.

Um pensamento atribuído aos sofistas da Grécia antiga diz: “todo ponto de vista é visto de um ponto; muda-se o ponto, muda-se a vista”. Essa ideia ressalta a necessidade de enxergar a realidade sob diferentes perspectivas, reconhecendo que a vida não segue uma linha reta, mas sim um caminho repleto de curvas, contradições e desafios. A inteligência emocional consiste, portanto, na capacidade de sintetizar os opostos de maneira sábia, encontrando soluções que conciliem os extremos e promovam o crescimento pessoal e coletivo.

Todavia, entre dois polos opostos, o equilíbrio não se trata necessariamente de seguir o caminho do meio, mas sim de uma análise cuidadosa das circunstâncias. O verdadeiro equilíbrio, como já sugeria Aristóteles ao falar da phronesis (sabedoria prática), exige uma leitura sensível do contexto, permitindo-nos aproximar ora de um extremo, ora de outro, conforme as necessidades do momento. Assim, a sabedoria está em saber quando se deve permanecer firme em um polo e quando se deve buscar a conciliação, sempre com o objetivo de construir um futuro mais harmônico e justo.

Enfim, a justiça deve sempre dialogar com a realidade e com a correlação de forças em jogo. No entanto, em nome da contínua construção de uma sociedade mais justa, não podemos nos acomodar diante dos limites impostos pela realidade. É fundamental desafiar esses limites, pois o conformismo e o conservadorismo retrógrado podem se tornar barreiras que impedem as mudanças necessárias para o progresso social.

João Antonio é conselheiro do TCM-SP e vice-presidente da Atricon