No Instagram, a professora Renata Cherubim posta a capa do livro 1984 e afirma que o leu agora, e como a leitura é densa, difícil, “requer nervos de aço”, mas que merece a fama. Nesta semana, a revista The Economist aborda o crescente interesse por George Orwell e sua vasta produção literária.
De fato, ler George Orwell é ingressar em reflexões inquietantes, incômodas, atualíssimas. A contemporaneidade impressiona, porque muito do que contém o livro 1984, por exemplo, não era ainda possível no ano de 1948, quando foi publicado, mas é plenamente viável hoje, em que os instrumentos de vigilância são poderosos e amplamente disponíveis. O Grande Irmão, que tudo via e controlava, a tele-tela na casa de cada cidadão, o “duplo-pensar”, que tornava os fatos um mero detalhe, verdade e mentira eram a mesma coisa, em parte inspirados nos Estados totalitários de Stálin e de Hitler, mas também especulação do autor sobre o futuro.
Em uma ditadura do século XXI, o controle do cidadão pelo Estado pode se tornar quase ilimitado. Ao contrário da democracia, em que o cidadão controla o Estado por vários meios – eleições periódicas, imprensa livre, liberdade de manifestação, exigência de transparência das ações governamentais etc – na ditadura o oposto se dá. Daí porque tão importante preservar a democracia e suas instituições. Se perdermos a democracia, recuperá-la torna-se quase impossível com as infinitas possibilidades de vigilância. As ruas estão repletas de câmeras, as casas são equipadas com instrumentos eletrônicos que possibilitariam um controle absoluto, os múltiplos bancos de dados que se cruzam pelas poderosas plataformas analíticas, enfim, dispõe-se de tecnologia para uma ditadura perdurar infinitamente, sem espaço para qualquer esboço de reação dos cidadãos.
Além de 1984 e Revolução dos Bichos, seus romances mais famosos, Orwell escreveu outros muito bons, como “Um pouco de ar, por favor”, e “Na pior em Paris e Londres”, além de uma produção de crônicas e de crítica literária muito intensa. Seus textos são primorosos, aulas de como escrever bem, de forma simples e direta.
A lição mais importante George Orwell, contudo, é o alerta de que a democracia é frágil, de que temos todos o dever de preservá-la e de que os riscos que corremos em aventuras autoritárias é real e assustador.
Edilberto Pontes – Presidente do IRB