Habilidades profissionais são competências que dependem de aprendizado, experiência, erros e acertos, capazes de desenvolver capacidades que permitam o exercício pleno de atividades laborais. Neste Dia dos Professores, trago o assunto para reflexão. Repetidas vezes, escutamos falar que a docência é um dom, uma vocação, um talento naturalmente desenvolvido. Olhar desta forma retira da sala um dos fatores mais importantes para a oferta de uma educação pública capaz de atrair a atenção e de despertar o interesse dos estudantes e, assim, garantir a aprendizagem de forma efetiva, que é o processo continuado de desenvolvimento profissional dos professores por meio da capacitação.
Pesquisa realizada pela Undime em parceria com o Itaú Social demonstra que 69,9% dos gestores escolares consideram um desafio a formação de professores a respeito de aspectos específicos de cada etapa do ensino fundamental. Os administradores citam como exemplo a transição do 5º para o 6º ano, quando as disciplinas passam a ser ministradas por um maior número de professores. Além disso, os estudantes que cursam essa etapa, em sua maioria, estão na transição da infância para a juventude, entre os 11 e 14 anos de idade. Fase de profundas transformações físicas, sociais e emocionais que precisam ser reconhecidas e amparadas. E é exatamente nessa área que a pesquisa apresenta um dos seus mais baixos índices: entre as formações com menor incidência de oferta estão as relativas às mudanças e ao desenvolvimento da adolescência nos estudantes (19,4%).
O uso de novas tecnologias, a relevância do amparo psicológico e o estímulo para que os alunos tenham interesse nos conteúdos oferecidos são necessidades que se tornaram mais urgentes após a experiência vivida durante a pandemia de covid-19. Devemos ter práticas para que a formação docente realmente responda a essas necessidades, que preparem os alunos tanto do ponto de vista intelectual e cognitivo quanto socioemocional. São pontos que, segundo especialistas na área, estão intimamente ligados aos processos de sucesso na aprendizagem e na permanência de crianças e jovens no ambiente escolar.
E para lidar com todos esses complexos desafios, é preciso preparo. Como regra, em sua formação, todo profissional precisa passar por etapas e especializações que lhe garantem segurança para o exercício da atividade.
Outra preocupação apontada por estudiosos e autoridades é o crescimento do número de docentes que optaram por cursos oferecidos na modalidade a distância (EAD). Um estudo do Todos pela Educação (TPE) identifica que em 2022, pelo menos seis em cada dez concluintes dos cursos de licenciaturas se formaram em EADs – índice muito acima de outras graduações. Os dados foram consolidados pelo TPE a partir de análises do Censo da Educação Superior e do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), ambos do Inep. O levantamento mostra ainda que a qualidade dos cursos de licenciatura na modalidade EaD vem caindo ao longo dos últimos anos no país.
Como admitir que professores sejam expostos e cobrados a lidar com situações sem receber a devida formação, sem a produção de novos saberes que tragam equilíbrio entre o conteúdo e a didática? Professores foram e são definidores na formação dos estudantes, são guias que motivam a caminhada e redirecionam rumos. Mas como ensinar sem aprender e manter-se aprendendo?
Cezar Miola – Presidente da Atricon