Ao tratamos apenas dos sintomas de uma doença, dificilmente conseguiremos combatê-la. É preciso atacar a causa. A afirmativa pode ilustrar também uma das principais preocupações das instituições em relação ao processo eleitoral: a disseminação de notícias falsas e as suas consequências.
Uma pesquisa do Datafolha destaca que, para 60% da população, as fake news podem influenciar os resultados das eleições. O controle em relação à disseminação dessas informações é algo difícil, mas vem sendo priorizado por instituições como o Tribunal Superior Eleitoral. É possível criar mecanismos para reduzir a incidência, mas o seu alcance varia muito de acordo com a educação e a formação dos brasileiros.
Para o filósofo Francisco de Castro Mucci, uma pessoa bem informada é, antes de mais nada, uma pessoa formada. Ele destaca que, para dar sentido a um fato, é preciso interpretá-lo. E isso é trabalhoso, exige contextualização e estudo. Informar-se significa contextualizar, saber avaliar, ouvir os argumentos diferentes, amadurecer a visão de mundo. E às vezes a informação vai no sentido contrário de seu propósito, defende Mucci. O seu excesso faz com que as pessoas se sintam saturadas. “Notícias são fragmentos da representação da realidade. E um punhado desses fragmentos não faz por si só uma informação bem fundamentada, totalizante da realidade”, também argumenta ele.
Assim, a identificação de notícias falsas depende muito do conhecimento prévio adquirido durante todo o processo formativo. Em boa parte dos casos, pelo menos em tese, pessoas com conhecimento mais aprofundado têm melhores condições de reconhecer informações equivocadas e, assim, não serem influenciadas por elas. Ademais, ainda somos um país com 11 milhões de analfabetos, segundo o IBGE, e com 6 milhões de alunos da educação básica em situação de atraso escolar, de acordo com um estudo do Unicef.
Muitas vezes invisível e com efeitos de longo prazo, a educação é o ponto de partida para tornar o indivíduo verdadeiramente independente. É o conhecimento que nos protegerá de repetir os erros do passado, dando condições de basear as nossas escolhas em verdades. Que, neste Dia da Educação, possamos refletir sobre os efeitos dessa política pública na coletividade. Se pretendemos vencer os desafios desse novo e complexo cenário, não há dúvida de que a educação se revela essencial. É um longo, mas gratificante caminho.
Cezar Miola, presidente da Atricon e conselheiro do TCE-RS.