III CNCTC: especialistas discutem desafios da transformação digital

O impacto das redes sociais e da transformação digital na comunicação pública foi o tema do segundo painel da primeira tarde de programação do III Congresso Nacional de Comunicação dos Tribunais de Contas (CNCTC), reunindo especialistas no cenário nacional. Intitulado “Redes Sociais, o Futuro da Comunicação Pública e o Impacto da Transformação Digital”, o debate mediado pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), conselheiro Domingos Taufner, teve a participação de Gustavo Igreja, chefe da Divisão de Comunicação Audiovisual do Banco Central do Brasil, e Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro para Regulamentação da Inteligência Artificial.

>> Veja mais fotos

Ao abrir o painel, Domingos Taufner destacou a relevância do tema para o cenário atual, em que as redes sociais exercem um papel determinante na construção da opinião pública e no engajamento do cidadão. Ele lembrou que, até a década de 2010, as redes eram utilizadas de forma mais pessoal e informal, mas rapidamente se tornaram arenas poderosas de mobilização social — nem sempre com intenções legítimas. “A partir de certo momento, as redes sociais passaram a ser exploradas por quem percebeu que o ódio e as notícias falsas geravam mais engajamento. Hoje vivemos uma verdadeira enxurrada de desinformação”, alertou o presidente do TCE-ES.

Comunicação pública em tempos digitais

Gustavo Igreja, primeiro palestrante do painel, tem vasta experiência em comunicação institucional. Ele lidera a produção de conteúdo jornalístico e audiovisual do Banco Central, além da gestão das mídias sociais da instituição. Em sua exposição, destacou os desafios enfrentados pelas instituições públicas ao se adaptarem a um ambiente digital em constante transformação. “A comunicação pública nasceu falando latim e precisa sobreviver com o meme”, destacou Igreja, ao ilustrar como as instituições públicas historicamente adotaram uma linguagem formal, técnica e pouco acessível. Segundo ele, o grande desafio hoje é sobreviver em um ambiente que exige leveza, empatia e conexão com o público.

Ele ressaltou que o setor público ainda enfrenta dificuldades em entender e alcançar efetivamente o público que pretender atingir. A falta de monitoramento adequado e o desconhecimento do comportamento dos usuários são entraves para uma comunicação eficaz. Ele enfatizou que muitas vezes os conteúdos são produzidos a partir de percepções internas — da chamada “bolha” institucional — e não de dados concretos sobre os interesses e necessidades do cidadão. “A gente tem que entender o que interessa ao público e como se comunicar com ele. E isso requer sair da nossa bolha. Muitas vezes estamos tentando alcançar as pessoas com uma linguagem que elas não entendem ou que não se conecta com o que realmente importa para elas”, afirmou.

A gravidade do momento digital e a urgência da regulação

Em seguida, Marcelo Senise trouxe uma reflexão contundente sobre o impacto da inteligência artificial na democracia. Com tom de alerta, o presidente do Instituto Brasileiro para Regulamentação da Inteligência Artificial citou exemplos internacionais para ilustrar os riscos de um uso descontrolado de tecnologias avançadas. “A maior democracia do planeta, os Estados Unidos, ficou de joelhos para a inteligência artificial há cerca de seis, sete anos. A democracia mais antiga da era moderna, o Reino Unido, também cedeu”, afirmou Senise, referindo-se ao uso de algoritmos para manipulação de opinião pública durante eventos políticos decisivos.

O especialista questionou se democracias mais jovens, como a brasileira, teriam estrutura institucional suficiente para resistir a esse tipo de ameaça. Ele fez um apelo à responsabilidade de todos — cidadãos, comunicadores, juristas e formadores de opinião — diante da gravidade do cenário atual. “Essa não é uma fala partidária, nem política. É um alerta. É uma chamada de atenção para o que está por vir”.

Senise reforçou a necessidade de uma regulação urgente, responsável e democrática da inteligência artificial no Brasil, a fim de garantir que as novas tecnologias sejam usadas para fortalecer — e não corroer — as bases do Estado de Direito.

III CNCTC

O III Congresso Nacional de Comunicação dos Tribunais de Contas (CNCTC) acontece até quinta-feira (7), no Ribalta, espaço multieventos localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com o tema central “Estratégia, inovação e diálogo com a sociedade”. O encontro reúne comunicadores, especialistas, acadêmicos, servidores e membros dos Tribunais de Contas de todo o país para debater os desafios contemporâneos da comunicação institucional no controle externo.

O evento é uma realização conjunta da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCMRio) e Instituto Rui Barbosa (IRB), e conta com o apoio institucional do Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC), da Associação Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municípios (Abracom) e da Associação Nacional dos Ministros e Conselheiros Substitutos dos Tribunais de Contas (Audicon) e patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Águas do Rio, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ) e Multiplan.

Texto: Ivana Leal/TCM-GO
Foto:  Joel Artus/TCE-AM
Edição: Ligia Caputo/TCMRio e Abracom