Professor de matemática, Dilson Ferreira Ribeiro, viveu nos últimos anos um exercício que envolvia muitos números, entre os quais a quantidade de aulas dadas a 11 turmas, as centenas de provas e tarefas elaboradas e corrigidas, os 300 quilômetros de deslocamento na estrada e a porção de páginas que precisava ser devorada para levar seu propósito adiante.
Lecionando no Colégio Municipal Pelotense, ele passou quatro anos entre as atividades na escola em Pelotas e o doutorado na PUCRS, em Porto Alegre. O resultado desse cômputo exaustivo saiu no mês passado. Autor de um estudo sobre o ensino de matemática para pessoas com paralisia cerebral, Dilson recebeu o Prêmio Capes de Tese, reconhecimento dado às melhores pesquisas de doutorado do país.
A história de Dilson, que ele relatou nas redes sociais, é simbólica neste Dia do Professor. Em todos os cantos do país temos educadores que enfrentam pesada carga de trabalho, se dedicam a ensinar nossas crianças e não deixam de correr atrás do aperfeiçoamento. Em Itapipoca (CE), uma professora percorreu longas distâncias de bicicleta, carregando um violão, para dar lições na casa dos seus alunos. Em Novo Hamburgo, há educadores que bateram de porta em porta para trazer de volta estudantes que abandonaram os estudos.
Nunca faltaram exemplos de mestres que nos inspiram com suas trajetórias de superação, competência e dedicação. Mas agora, transcorrido mais de um ano e meio de pandemia, é preciso ressaltar suas histórias. Se o vírus trouxe restrições sociais e econômicas, angústia, dor e luto, produziu indiretamente experiências que reafirmam a resiliência desses profissionais para garantir a tantos estudantes a chance de continuar aprendendo.
Além de suportar os próprios medos e desafios da vida pessoal, os professores tiveram de lidar com as dificuldades dos alunos e de suas famílias. O cenário foi árido e mostrou os gargalos que o poder público precisa enfrentar: escolas sem estrutura e fechadas, falta de internet para o ensino a distância, profissionais com remuneração e treinamento insuficientes, relações sociais entre as crianças e jovens prejudicadas pelo distanciamento e demora na vacinação comunidade escolar.
No Dia do Professor, e em cada dia, temos de saudar Dilson e todos os colegas que não desistem da educação brasileira.
Cezar Miola, presidente do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa.