O governo tem de prestar contas ao público, diz especialista

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Educação: cada vez o país tem mais dinheiro para educação, mas ao mesmo tempo uma fatia menor desse dinheiro é gasta

É difícil definir a profissão do inglês Geoff Mulgan. Analista político e social com seis livros publicados, ele foi conselheiro dos ex-premiês ingleses Tony Blair e Gordon Brown, professor da London ­School of Economics e já fundou e presidiu algumas ONGs. Desde 2011, preside a Nesta, agência de inovação britânica reconhecida mundialmente por suas transformações do setor público.

Seu maior objetivo é mudar a maneira como os governos gastam, difundindo o que chama de cultura de políticas públicas com base em evidências. Mulgan veio ao Brasil em abril conversar com ministros e dar palestras.

EXAME – Por que é importante mensurar os resultados das políticas públicas?

Geoff Mulgan – A geração de dados claros sobre o efeito do gasto público deve ser inerente à democracia. Com evidências concretas, a população pode fazer melhor suas escolhas. Nos últimos três anos, o governo britânico tem se empenhado em fortalecer instituições que medem e divulgam a efetividade das políticas sociais. São os chamados What Works Centres (ou “centros sobre o que funciona”).

 

 

EXAME – Como esses centros funcionam?

Geoff Mulgan – Os melhores exemplos estão em saúde e educação. Nessas áreas, as medidas são complexas e dispersas. Por isso, o Sistema de Saúde Britânico adotou uma medida chamada “anos de vida ajustados à qualidade”. Para avaliar se um remédio contra o câncer deve ser oferecido à população, o órgão faz análises de custo-efetividade.

Assim, descobriu que há medicamentos oncológicos caríssimos que resultam em apenas alguns meses extras de vida saudável. Por outro lado, concluiu que programas para evitar que idosos caiam no chão são baratos e geram ganhos substanciais em anos de vida.

EXAME – E como essa lógica é aplicada à educação?

Geoff Mulgan – A Education Endowment Foundation (fundação que faz doações a escolas de áreas mais pobres) realiza experimentos nas escolas britânicas e compila estudos do mundo inteiro sobre a efetividade de intervenções educacionais. O objetivo é traduzir os ganhos em uma unidade de medida: quantos meses extras de aprendizado o aluno obtém com uma ação.

Por exemplo, o método mostra que programas que oferecem um laptop por criança são custosos e não produzem muitos meses adicionais de aprendizagem.

EXAME – Algo já mudou no dia a dia das escolas inglesas?

Geoff Mulgan – Sem dúvida. Hoje, dois terços dos professores no Reino Unido estão utilizando esses dados para descobrir que estratégias de ensino têm maior efeito sobre a aprendizagem.

EXAME – A cultura de medir resultados está se difundindo?

Geoff Mulgan – Nossa organização, a Nesta, em parceria com outros órgãos independentes, criou um movimento para difundir a cultura de medição de resultados. Queremos que haja uma discussão mais informada e transparente sobre onde investir o dinheiro público. Estamos organizando eventos com os principais partidos britânicos.

EXAME – Qual é a estratégia da aliança?

Geoff Mulgan – Pressionar políticos para que não invistam apenas no que está na moda, mas, sim, no que comprovadamente dá certo.

EXAME – Fora do Reino Unido há algo semelhante? 

Geoff Mulgan – Sim. A fundação do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg acaba de doar 43 milhões de dólares para lançar a iniciativa What Works Cities, que quer levantar dados e avaliar políticas em cidades médias dos Estados Unidos.

Fonte: Revista Exame