A herança cultural é fundamental para a identidade e a memória de um povo e para a sua consciência enquanto comunidade ou nação.
Na semana em que se celebra o dia nacional do patrimônio cultural, é oportuno refletir sobre a importância de preservar nossas tradições, memórias e valores, e simultaneamente buscar a inovação e o avanço.
Em uma era de transformações rápidas e constantes, pode parecer contraditório unir o respeito ao passado e a vontade de construir um futuro distinto. Entretanto, essas duas vertentes estão mais interligadas do que se imagina.
Primeiramente, deve-se compreender que o patrimônio cultural não é apenas um conjunto estático de obras, monumentos, bens culturais ou tradições. Ele é vivo, em constante evolução, e é moldado pelas gerações que o vivenciam.
Um exemplo bem conhecido é a Torre Eiffel em Paris. Quando foi construída para a Exposição Universal de 1889, muitos parisienses e críticos de arte detestaram a torre, considerando-a uma monstruosidade. No entanto, sua construção representou uma conquista significativa da engenharia civil da época, tendo sido uma das primeiras estruturas a utilizar ferro forjado em larga escala. Também foi, naquele momento histórico, o edifício mais alto do mundo, representativo do progresso e da capacidade humana de superar desafios através da ciência e da tecnologia.
Com o tempo, a construção exótica se tornou um ícone amado e representativo da cidade de Paris e da França como um todo, demonstrando como as percepções culturais podem mudar e como o que é “moderno” pode, eventualmente, se tornar “clássico”. A Torre Eiffel é também um símbolo da evolução cultural, da aceitação da modernidade, da inovação e da criatividade.
Assim, cada período histórico, com suas inovações e desafios, adiciona novas camadas a este patrimônio, tornando-o mais rico e diverso.
Por seu lado, muitas vezes a inovação encontra inspiração no passado. As soluções do presente frequentemente têm raízes nas tradições e nos conhecimentos ancestrais.
Valorizar e entender nosso patrimônio é uma forma de reconhecer as soluções que nossos antepassados encontraram para os desafios de suas épocas e, a partir disso, projetar soluções ainda mais eficientes para o presente e o futuro.
Ademais, em um mundo cada vez mais globalizado, o patrimônio cultural torna-se um elemento distintivo, um diferencial que pode ser potencializado pela inovação. No turismo, nas artes, na gastronomia ou na tecnologia, aliar tradição e inovação pode resultar em propostas únicas, que atraem e encantam por sua originalidade e autenticidade e geram identidade e valor para as comunidades em que se inserem.
A gestão inovadora dos bens culturais supera o conceito de coleções de antiguidades fossilizadas transformando antigos espaços em laboratórios vivos de aprendizado e criatividade.
Por meio de uma abordagem que valorize tanto o patrimônio quanto a inovação, pode-se construir um legado que será fonte de inspiração e orgulho para as gerações futuras. Que este seja um convite à reflexão e à ação, pois o patrimônio cultural é um bem comum que deve e merece ser continuamente protegido, enriquecido, vivenciado e compartilhado. E nisso são fundamentais as ações da advocacia pública e dos órgãos de controle externo.
Luiz Henrique Lima – Conselheiro Substituto do TCE-MT
Cinara de Araújo Vila – Mestre em Indústria Criativa e procuradora municipal de Novo Hamburgo