O que é o câncer? Como reconhecer os sintomas e sinais da doença, quais condutas adotar a partir do diagnóstico e qual é a jornada do paciente? A partir desses e outros questionamentos, a oncologista clínica e oncogeneticista Thamara Melo apresentou, nesta quarta-feira (23/10), no plenário do TCE/BA, a palestra “Câncer de Mama: Desafios”, em alusão ao Outubro Rosa, campanha de conscientização que tem como objetivo compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento, além de contribuir para a redução da mortalidade.
Antes de falar sobre a jornada do paciente com câncer de mama, Thamara Melo foi categórica ao afirmar que a atividade física é o “comprimido diário” que a paciente precisa ter, ou melhor, todos nós. Ela lembrou que a recomendação é de 150 minutos de atividade moderada por semana ou de 75 minutos, três vezes por semana.
“Se a mulher caminha cinco vezes por semana, essa atividade é considerada moderada. Isso seria o ideal, ou então correr, por exemplo, ou fazer uma atividade de natação três vezes por semana; isso seria excelente. É o equivalente a usar um comprimido dizendo para ela: ‘Toma esse comprimido que você reduz o risco do câncer’. Então, isso não só vale para o câncer, mas também para outras doenças, como hipertensão e diabetes. A atividade física é fundamental para a correção dos distúrbios metabólicos. É um remédio que não depende só de você. Você não precisa dos outros fatores, das outras assistências. É o seu empenho pessoal capacitando e empoderando-o no controle das suas doenças”, recomendou Thamara.
Ao ser questionada sobre o autoexame como medida de prevenção, a médica esclareceu que a prevenção ao câncer de mama é mais do que o autoexame. “Hoje não se usa mais o toque como uma medida de rastreamento para fazer o controle. Claro que todas as mulheres que identificam algum sinal clínico na mama, ou que, durante o banho ou em algum momento do dia, percebem que têm algum nódulo ou alguma alteração, devem procurar assistência médica. Isso é claro, mas a gente não recomenda mais aquelas informações de que ela tem que fazer o toque da mama no quinto dia útil da menstruação para, só a partir daí, fazer a avaliação médica”, destaca.
Thamara Melo explicou que a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia para pacientes com mais ou menos risco é fazer a mamografia a partir dos 40 anos, enquanto o Ministério da Saúde ainda recomenda a partir dos 50 anos. “A gente adota a conduta de solicitar os exames para as mulheres a partir dos 40 anos, mas não apenas fazer o toque. É importante perceber outros sinais e sintomas da mama, como descarga do mamilo, descarga sanguinolenta do mamilo, sinais e sintomas como aumento da glândula mamária, sinais inflamatórios na pele ou de aspecto de casca de laranja, aparecimento de caroços na axila ou no pescoço, e uma série de outros sinais, como, por exemplo, aumento de tamanho da mama, pele do mamilo com ferimentos ou mamilo que fica para dentro. Então, existem alguns sinais clínicos que podem auxiliar na identificação de lesões da mama que necessitam de avaliação”.
Em relação às pesquisas que mostram que mulheres negras têm mais risco de morrer de câncer do que brancas, a oncologista clínica defendeu que a doença da mama é desproporcional em todas as populações. Ao analisar gráficos mundiais, percebe-se que a doença da mama existe no mundo inteiro, justificando que a assistência que uma paciente negra recebe não é a mesma que uma paciente branca. “Ela demora muito mais para ser atendida, para ser diagnosticada e para ter a condição de saúde necessária para receber o tratamento no tempo adequado. Para essas mulheres, a expectativa de vida é menor em comparação às populações brancas. A maioria dos estudos não incorpora esse percentual de pacientes que, além da condição socioeconômica desfavorável, são aquelas com tumores triplo negativos. Existe um perfil de triplo negativo que é mais agressivo e que é mais frequente nas mulheres de etnia negra”.
Ao falar para uma plateia majoritariamente formada por mulheres, a médica fez um alerta também aos homens presentes. “O câncer de mama não acontece só nas mulheres; em 1% dos casos, ocorre nos homens. É mais raro, mas é importante ficar alerta. A partir dos 40 anos, recomendamos a realização de mamografia para identificação de lesões iniciais, mamas densas e lesões iniciais de mulheres com suspeita ou que tenham algum fator de risco para o câncer de mama”. E lembrou que, em famílias com muitos casos de câncer de mama, ovário ou próstata, as mulheres devem realizar o rastreamento do câncer de mama mais precocemente.
Thamara convocou todas as servidoras a participarem dessas campanhas não apenas no mês de outubro. “Quero que elas ‘outubrem-se’ o ano inteiro, para que possamos fazer cada vez mais estratégias de prevenção e garantir tratamentos adequados a uma parcela da população que é assistida de forma integral e que possa ter, enfim, uma condição de saúde que permita a identificação de tumores iniciais, com opções de tratamentos curativos definitivos”.
Confira o poema de Thamara Melo, “Uma Mama para Contar”:
“É Outubro e vou falar de uma doença que há muitos séculos faz calar/ Traz estigma e também dor, mas falo mais de gente corajosa, sim, senhor/ São tantas histórias a contar, muitas histórias belas aqui vim revelar/ Então, peço licença e atenção, que é sobre mama esta preleção/ Procure um médico se achar algum sinal de uma mama diferente ou anormal/ Se encontrar um caroço endurecido, se o mamilo está ferido, para dentro ou algo parecido/ Se a pele parece casca de laranja, procure um médico para encontrar a esperança/ Faça os exames para prevenção, para evitar que o nódulo cresça e cause mutilação/ Cuide de você mesma com jeitinho, precisamos diagnosticar o nódulo bem cedinho/ Não teremos muito tempo e não vou me estender, mas este recado é para você/ Orientar a quantos que queiram entender sobre câncer de mama, para evitar que a doença faça mais alguém querido perecer/ Pois câncer de mama tem cura para quem a prevenção cedo procura.”
Fonte: TCE-BA