O assédio causa danos não só à vitima, mas também ao ambiente de trabalho, à instituição”. A frase, da promotora de Justiça Érica Canuto, mostra a complexidade que o assédio sexual ou moral representa na sociedade, e da importância não somente do debate, mas da tomada de atitudes de prevenção e combate a este tipo de ocorrência. E foi este o objetivo da 14ª edição do projeto Sexta de Contas, realizado nesta sexta pela manhã, abrindo espaço para a discussão do tema “Conscientização, Prevenção e Combate ao Assédio, em suas diferentes formas, no ambiente laborativo”.
“Trata-se de um grave problema que envolve as relações sociais, trazendo desconforto, vergonha, intimidação. É nosso dever garantir boas condições, respeito e dignidade no ambiente de trabalho”, destacou o conselheiro Carlos Thompson Costa Fernandes, diretor da Escola de Contas Severino Lopes de Oliveira, no inicio da apresentação, acentuando da importância da conscientização e também da implementação de mecanismos de prevenção e proteção das vitimas e responsabilização dos ofensores. O projeto, realizado pela Escola de Contas em parceria com a Ouvidoria, vem se consolidando como um espaço de apresentação e debates de temas significativos para a sociedade, buscando disseminar conhecimentos para o controle social.
A coordenadora do Núcleo de Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar do Ministério Público, Érica Canuto, falou do assédio no trabalho e suas implicações com questões de gênero. “Durante muito tempo, as mulheres foram excluídas do mercado de trabalho, dos espaços de formação. Antes de 1962 a mulher só podia trabalhar com a permissão do marido. Seu papel era cuidar da casa, dos filhos”, relatou.
Para a promotora, a questão de gênero (masculino ou feminino) é uma imposição social, não é algo da natureza humana. E é esta “construção” que leva à naturalização de atos machistas, sexistas que estimulam a agressões sexuais e outros comportamentos. Trata-se de uma cultura disseminada nas ruas, em revistas, na TV, em propagandas, nas mídias sociais, em conteúdos que não vai se percebendo, mas vai sendo interiorizado, sendo socializado. É esta cultura que tem que ser desconstruída, a partir da tomada de consciência e também de atitudes.
Nesta perspectiva, apresentou os seguintes dados: a cada 11 minutos uma pessoa é estuprada no Brasil, no entanto, menos de 10% dos crimes são notificados. Cerca de 70% das vítimas são crianças e adolescentes e os agressores, 34,1% são pais ou padrastos e 32,2% são amigos ou conhecidos. No ambiente de trabalho, o assédio acontece com elogios que incomodam, toques, olhares persistentes. Práticas comuns que não raro se tornam em algo constrangedor, em chantagem, em violência. “É preciso dizer não ao assediador”, ressaltou a promotora, lembrando que o assédio pode ser caracterizado como crime. “A maior estratégia de enfrentamento é não se calar”, disse.
O que ocorre é que muitas mulheres tem medo de denunciar, por várias motivações, entre as quais a manutenção do emprego ou a própria relação que fica tóxica no ambiente de trabalho. No caso do assédio, deu algumas dicas, tais como: evitar permanecer sozinha no mesmo local do assediador; anotar, com detalhes, as abordagens, assim como colher provas, bilhetes, emails, presentes, vídeos, áudios, e ver a ajuda de colegas que possam comprovar a importunação, entre outras, no caso de denúncia em juizo. “É preciso não ter medo de falar. A postura tem que ser da igualdade de gênero, com respeito e dignidade”, disse.
Fonte: TCE-RN