Inaldo Sampaio, Jornalismo e Democracia

Valdecir Pascoal

Em um mundo marcado por crises nas instituições e pela desinformação nas redes sociais, o Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) deu um passo importante para reafirmar a relevância da relação entre os órgãos de controle e a imprensa: o lançamento do Prêmio Inaldo Sampaio de Jornalismo. Mais que uma honraria, o prêmio homenageia e estende a mão a esses trabalhadores fundamentais para qualquer sociedade que se pretenda democrática. E faz isso pela memória de um dos seus mais exemplares representantes, o jornalista Inaldo Sampaio.

Nascido em São José do Egito, Inaldo é lembrado não apenas como um dos jornalistas mais brilhantes de sua geração, mas também como um homem ético e apaixonado por suas vocações: o jornalismo, a política com “P” maiúsculo e a música. Por 27 anos atuou na comunicação do TCE-PE, sempre com a convicção de que a relação entre a imprensa e as instituições públicas deveria ser baseada na clareza, na retidão e no compromisso com a sociedade. Seu legado permanece vivo em cada iniciativa que busque tornar o debate público mais qualificado e acessível.

No último dia 29 de novembro, em uma emocionante cerimônia no décimo andar do edifício Dom Helder (sede do TCE-PE), entregamos os troféus da 1ª edição do Prêmio. Entre os vencedores estão jornalistas consagrados, mas também jovens repórteres, de veículos menos tradicionais ou independentes, que produziram jornalismo com profundidade, em formatos que vão do podcast ao minidocumentário.

Os trabalhos foram julgados por uma comissão formada por professoras de jornalismo da UFPE e da Unicap, além de representantes do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (Sinjope) e da Diretoria de Comunicação do TCE-PE.

Os vencedores tocaram em temas que refletem a essência do serviço público e do interesse coletivo. Cada reportagem é um grito de alerta e um chamado à ação, mostrando como o jornalismo é essencial para traduzir os desafios sociais em propostas concretas.

No jornalismo impresso e web, os vencedores foram:

        •       Roberta Soares (Jornal do Commercio), com uma análise impactante sobre a ausência de regulamentação no transporte por motos em aplicativos, o que tem levado a um aumento expressivo nas mortes envolvendo motocicletas – questão gravíssima e, no entanto, pouco debatida.

        •       Raphael Guerra (Jornal do Commercio), que, em uma apuração contundente, revelou o envolvimento de policiais em homicídios ocorridos em Camaragibe, levantando questões sobre o uso da força e o respeito aos direitos humanos.

        •       Marília Parente (LeiaJá), ao expor as precariedades do transporte escolar e mostrar como a falta de estrutura ameaça o direito básico à educação dificulta a permanência de crianças e jovens nas escolas.

No videojornalismo, os vencedores abordaram temas que dialogam com o presente e o futuro:

        •       Victor Moura (Redes do Capibaribe) fez um minidocumentário sobre as condições precárias de moradia em áreas de risco do bairro de Água Fria, desnudando esse grave problema e ressaltando o clamor social por uma atuação mais efetiva dos poderes públicos.

        •       Beatriz Castro (TV Globo), em um trabalho que uniu história e inspiração, contou a trajetória de Dom Helder Camara, reforçando a importância da memória como pilar da democracia e do humanismo.

        •       Ana Regina (TV Globo) mostrou, com sensibilidade, como a primeira infância é crucial para o desenvolvimento humano e para o futuro do país.

Na rádio, a multiplicidade de temas revela o alcance do jornalismo:

        •       Vitória Carolina (LeiaJá) trouxe à tona o sofrimento de famílias que vivem próximas a parques eólicos em Caetés, conectando as questões ambientais com a dignidade humana.

        •       Gabriela Bento (Rádio Jornal) destacou os salários e benefícios dos vereadores da capital, promovendo a transparência e o controle social.

        •       Daniele Monteiro (CBN) mostrou a relevância do projeto “Escuta Cidadã” do TCE-PE, reforçando a conexão entre a instituição e a sociedade.

Representando o que há de melhor no jornalismo praticado em Pernambuco no ano de 2024, esses trabalhos são mais do que reportagens. São espelhos da nossa sociedade e convites à reflexão e à mudança. Cada um deles revela o impacto de políticas públicas — ou de sua ausência — na vida das pessoas, dando voz àqueles que mais precisam ser ouvidos.

Encerramos a celebração com a consciência de que o jornalista é mais do que um observador: é um construtor da história. Como disse Fernando Pessoa, “A palavra é o fio da verdade, e a imprensa é o tear onde a sociedade tece sua história”.

É nesse tear que se constrói uma democracia viva, com instituições sólidas e um debate público qualificado. O Prêmio Inaldo Sampaio não é apenas uma homenagem ao passado, mas um compromisso com o futuro. Um futuro em que a imprensa continue sendo o fio condutor da verdade, a cidadania seja fortalecida e a democracia permaneça inabalável.

Que a liberdade com responsabilidade, a democracia e a imprensa livre sejam sempre os alicerces de nossa caminhada coletiva. Afinal, é na coragem de informar e na paixão por transformar que encontramos o verdadeiro significado do jornalismo.

Valdecir Pascoal Presidente do TCE-PE