Colocar em prática os protocolos básicos de segurança sanitários para enfrentar a pandemia de covid-19 é um desafio para um número significativo de escolas brasileiras. De acordo com levantamento do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), 6,1 milhões alunos (26,91%) das redes municipais de ensino e 3,7 milhões (24,73%) das redes estaduais de educação básica estão matriculados em colégios que apresentam ao menos um problema de infraestrutura que dificulta o cumprimento dos protocolos de segurança para o enfrentamento da pandemia. São 9,9 milhões (26,04%) de estudantes afetados. O estudo exclui dados das escolas federais.
Foram analisadas informações de 137,7 mil escolas e de 38 milhões de estudantes. O levantamento apresenta dados extraídos do Censo Escolar 2020, tais como conexão à internet, existência de esgoto sanitário, energia elétrica, água potável e quadra e pátio cobertos nas dependências da escola[1].
O levantamento destaca que, pelo menos 5,9 mil (4,31%) escolas não possuem banheiro, 9,6 mil (7,02%) não têm acesso à água potável e 8,5 mil (6,19%) não têm esgoto. Outros 3,4 mil (2,5%) estabelecimentos de ensino não dispõem de abastecimento de água, o que inviabiliza a limpeza dos locais. Além disso, 59,4 mil (43,1%) escolas não possuem pátios ou quadras cobertas, um fator importante para a realização de atividades em espaços arejados.
“Essas estruturas são fundamentais para que a comunidade escolar possa seguir os protocolos mais básicos de segurança para evitar a contaminação pelo coronavírus. As escolas precisam estar abertas para atender e acolher aos estudantes. Acesso à água potável, a existência de banheiros e rede de esgoto são apenas o ponto de partida”, diz o presidente do CTE-IRB, Cezar Miola.
Já o sistema de ensino on-line ou híbrido que, apesar dos atrasos e fragilidades, segue como uma das principais formas de oferta da educação durante a pandemia _ é uma realidade distante para 54 mil (39,69%) das escolas brasileiras. O Censo Escolar 2020 aponta que esse quantitativo não tem internet banda larga, ferramenta fundamental para o ensino virtual. E esse é um dos fatores que ampliaram ainda mais as desigualdades entre as redes pública e privada. Enquanto os colégios particulares rapidamente adotaram ferramentas digitais para atender aos alunos, parte dos estabelecimentos públicos ainda não conseguiu implementar esses sistemas.
“O acesso à internet precisa ser considerado um direito fundamental, juntamente com aqueles já consagrados na Constituição. E, no caso da realidade atual, um direito capaz de viabilizar a concretização de outro – a educação, traduzida no acesso e na permanência na escola, com garantia de qualidade, para todos os brasileiros”, destaca o presidente do CTE-IRB.
A ausência do vínculo entre os estudantes e as escolas têm fortes reflexos na evasão e no abandono escolares. O estudo “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil _ Um alerta sobre os impactos da pandemia da COVID-19 na Educação”, realizado pelo Unicef em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), indicou que, em novembro de 2020, um contingente de 5,1 milhões de meninos e meninas de seis a 17 anos não tiveram acesso à educação. A pobreza e a sua relação com a exclusão escolar aparecem de forma muito evidente no estudo. Em 2019, pelo menos 90% das crianças e adolescentes de quatro a 17 anos que estavam fora da escola tinham renda familiar per capita menor que um salário mínimo.
O levantamento completo sobre a infraestrutura das realizado pelo CTE-IRB está disponível em https://projetoscte.irbcontas.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Dados-de-Infraestrutura-Escolar-por-Escola-Censo-Escolar-2020.xlsx (dados por Estado) e na tabela a seguir (dados Brasil). Podem ser consultados dados das redes de ensino, detalhados por escola, dos 26 Estados, do DF e dos Municípios de São Paulo e do Rio de Janeiro. As informações foram encaminhadas a todos os Tribunais de Contas com o objetivo de subsidiar as ações de fiscalização dos órgãos.
- Escolas:
 
|  
 Rede  | 
 
 Escolas  | 
 
 Alunos 
  | 
Sem Internet  | 
Sem Banda Larga | Sem Banheiro  | 
Sem Esgoto  | 
Sem Água  | 
Sem Água Potável  | 
Sem Energia  | 
Sem Quadra ou Pátio Cobertos  | 
| Municipal | 107.899 | 22.898.611 |  33.065 (30,64%)  | 
 47.648 (44,16%)  | 
 4.172 (3,87%)  | 
 7.479 (6,93%)  | 
 3.140 (2,91%)  | 
 6.402 (5,93%)  | 
 3.340 (3,10%)  | 
 49.704 (46,07%)  | 
| Estadual | 29.888 | 15.199.500 |  2.289 (7,66%)  | 
 7.033 (23,53%)  | 
 1.767 (5,91%)  | 
 1.048 (3,51%)  | 
 307 (1,03%)  | 
 3.269 (10,94%)  | 
 477 (1,60%)  | 
 9.764 (32,67%)  | 
| Total | 137.787 | 38.098.111 |  35.354 (25,66%)  | 
 54.681 (39,69%)  | 
 5.939 (4,31%)  | 
 8.527 (6,19%)  | 
 3.447 (2,50%)  | 
 9.671 (7,02%)  | 
 3.817 (2,77%)  | 
 59.468 (43,16%)  | 
- Número de estudantes afetados
 
| Rede | Alunos sem Internet  | 
Alunos sem Internet Banda Larga  | 
Alunos sem Banheiro  | 
Alunos sem Esgoto  | 
Alunos sem Água  | 
Alunos sem Água Potável  | 
Alunos sem Energia  | 
Alunos sem Quadra ou Pátio Coberto  | 
| Municipal | 2.390.233 (10,44%)  | 
 5.581.112 (24,37%)  | 
 225.019 (0,98%)  | 
 440.055 (1,92%)  | 
 196.417 (0,86%)  | 
 714.164 (3,12%)  | 
 105.908 (0,46%)  | 
6.043.849 (26,39%)  | 
| Estadual |  313.771 (2,06%)  | 
 2.507.109 (16,49%)  | 
 611.954 (4,03%)  | 
 114.831 (0,76%)  | 
 40.865 (0,27%)  | 
1.014.627 (6,68%)  | 
 18.662 (0,12%)  | 
3.508.938 (23,09%)  | 
| Total | 2.704.004 (7,10%)  | 
 8.088.221 (21,23%)  | 
 836.973 (2,20%)  | 
 554.886 (1,46%)  | 
 237.282 (0,62%)  | 
1.728.791 (4,54%)  | 
 124.570 (0,33%)  | 
9.552.787 (25,07%)  | 
[1] A existência de pátio ou quadras cobertas também foi analisada, mas os números não foram computados no somatório de estudantes afetados citados no início do texto, já que a inexistência dessas estruturas não inviabiliza a realização das aulas.
Texto: Priscila Oliveira