Um dos compositores que admiro, no nosso cancioneiro popular, é Bituca. Como não gostar das canções escritas por Milton Nascimento? Entre tantas, “Bailes da vida” sempre serviu de mote para que eu não desistisse dos meus combates, afinal, “para cantar nada era longe, tudo tão bom” e mesmo com “a roupa encharcada e a alma repleta de chão, todo artista tem de ir aonde o povo está”.
Sendo assim, como não percorrer os rincões deste Brasil para, também, tentar levar nossa profissão de fé que se resume na defesa da contabilidade e da auditoria públicas?
E, justamente nessas minhas empreitadas quando estava em uma noite de sexta-feira, na BR 101, em um modesto Chevrolet, cortando o estado de Sergipe, voltando da cidade de Lagarto, é que me vi plenamente imbuído desse espírito, no meu pensar sobre “Bailes da vida” e na ideia de escrever este artigo.
Confesso que, ao receber o convite para falar, na terceira cidade mais antiga daquele estado nordestino, sobre a “importância dos Tribunais de Contas na implantação da nova Contabilidade Pública”, pouco sabia da história da “Cidade Ternura”, terra dos ilustres Sílvio Romero e Laudelino Freire.
Recordo que, ao conversar com um amigo sobre a minha missão, fui indagado acerca do quanto iria ganhar. De pronto, redargui que não era essa a questão, pois, quando se defende aquilo em que se acredita, a preocupação reside no que vamos oferecer.
Porém, voltando à estrada, durante nossa ida àquele município, depois de uma manobra imprudente, o pneu do carro estourou e, pior, estávamos sem macaco. Se estivéssemos na Bahia, eu até aceitaria a falha do motorista, afinal, contrariando um pouco Caetano, a Bahia não tem um jeito […] a Bahia não tem jeito. Mas será que não ter jeito não é um jeito de ser da Bahia?
Contudo, estávamos em Sergipe. Terra de um povo ordeiro, trabalhador e extremamente acolhedor, como constantemente me prova o Conselheiro Clóvis Barbosa de Melo. Portanto, fica fácil perdoar (sorrio). Como sou otimista, creio na máxima: imprevistos acontecem e poderia ter sido pior.
Passado o susto, e graças a uma ajuda despretensiosa, voltamos ao caminho. Mais uma vez na estrada, refleti sobre o risco que corremos nos nossos “bailes da vida”.
Terminada a palestra, o retorno para Aracaju começou tenso, até que começamos a cantarolar algumas músicas. Assim, o cantar transformou o longe em perto e converteu a angústia em prazer.
Naquele momento eu tive a certeza de que, assim como cantar, para dizer o que é preciso, nada é longe […] tudo é bom.
Além do mais, para defender o que creio, mesmo com todo o risco e cansaço, continuarei viajando de avião, de ônibus, de carro, de barco, na “boleia de caminhão”, e, se preciso for, até a pé. Somente não posso é perder a minha fé.
Inaldo da Paixão Santos Araújo – Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Professor. Escritor – [email protected].