TCE-RJ: I Ecoar ensina a reaproveitar alimentos e roupas usadas

Nesta quarta-feira (30/10) o Tribunal de Contas do Estado promoveu o I Ecoar – Encontro da Cidadania. A superintendente de Território e Cidadania, da Secretaria de Estado do Ambiente, Ingrid Gerolimich, apresentou aos servidores do TCE-RJ, aos funcionários da firma de limpeza do TCE-RJ, e aos menores da Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) que trabalham no Tribunal, três projetos socioambientais desenvolvidos pelo órgão: o Ecobuffet, o Ecomoda e o Fábrica Verde.

O projeto Fábrica Verde, o único que não teve demonstração prática, reaproveita computadores obsoletos ou quebrados doados por cidadãos, empresas públicas e privadas, ao mesmo tempo em que promove a inclusão socioeconômica de jovens e adultos do Complexo do Alemão e Morro da Chacrinha, na zona Norte, e Rocinha, na zona Sul do Rio. Os moradores dessas comunidades recebem qualificação profissional em montagem e manutenção de microcomputadores. Iniciado em 2011, o projeto já formou mais de mil alunos e recebeu mais de 120 toneladas de lixo eletrônico (informática e outros), convertidos em aproximadamente duas mil máquinas novas.

A apresentação do Ecobuffet começou com um café da manhã sustentável no restaurante da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado (Astcerj). O projeto utiliza técnicas de culinária voltadas ao desperdício zero através do reaproveitamento de talos, cascas e sementes dos alimentos. No cardápio foram servidos cupcakes com casca de abobrinha, doce de melancia, bolo de casca de laranja, bolo de chocolate com chuchu, suco de melancia com gengibre e suco de fanta, feito com cenoura, laranja, suco de limão e água gasosa.

Segundo Ingrid Gerolimich, o Brasil é um dos países que mais desperdiça alimentos no mundo. “Com o tratamento daquilo que é considerado lixo nós conseguimos capacitar pessoas e criar uma outra possibilidade de mercado. A superintendência tem dois anos e meio, então ainda está consolidando esses projetos. Recentemente estivemos em Angola e fomos convidados a ir para a Guatemala, além dos convites para ir a outros municípios e estados”, informou. “Ficamos muito felizes de levar esse trabalho a vários públicos e o TCE me deixou muito surpresa pelo trabalho que vem realizando, inclusive com os menores da FIA. Nós estamos pensando nessa parceria também para poder aproveitar nas nossas capacitações. Realmente vocês estão de parabéns”, elogiou.

O coordenador do Comitê de Gestão Socioambiental do TCE-RJ, Marcello Leoni, iniciou o evento explicando: “Nós queremos destacar, com esse evento, a economia solidária. Pretendemos disseminar ações relevantes no que tange a ter uma atitude responsável – nesse caso, com relação à alimentação”. Leoni destacou a Lei Estadual nº 6498, promulgada em julho deste ano, que institui o reaproveitamento de alimentos para a população carente do estado. “Não é reaproveitamento com o que volta da mesa, mas sim do alimento que foi preparado e não foi à mesa, dando a ele uma destinação social. Por isso, nós elegemos o mês de outubro para comemorar o dia da nutrição e chamar a atenção do consumo com a boa utilização dos alimentos”.

Andréa Nizia Sena dos Santos Rodriguez, analista da 3ª Coordenadoria de Controle Estadual, elogiou o saboroso café da manhã e sugeriu que as guloseimas façam parte do cardápio de sobremesas do restaurante da Astcerj. “Está maravilhoso. O único problema é que amanhã vou ter que correr mais do que já corro. A cocada da parte branca da melancia, por exemplo, parece doce de mamão verde. Está difícil parar de comer”, brincou. Yuri Gomes, de 17 anos, um dos menores da FIA, concordou: “Foi bem diferente e interessante e deu para aprender bastante coisa. Tem alimento que a gente joga fora, mas pode ser bem reaproveitado. Nunca tinha comido essas coisas. Nossa, o bolo de chocolate está uma delícia e eu nem gosto de chuchu!”, comentou.

Coordenador do Projeto Ecobuffet, Cleber do Espírito Santo falou sobre o projeto, que funciona na Comunidade da Chacrinha, na Tijuca. O curso tem duração de cinco meses, três dias por semana, e tem como professores dois nutricionistas, além da participação em workshops de chefs de cozinha. Qualquer pessoa, mesmo quem não faz parte da comunidade, pode fazer o curso, mas a prioridade é para os moradores. Na primeira turma, que foi de março a julho deste ano, participaram 80 alunos. “O objetivo é fazer a pessoa, dentro dos princípios de nutrição e qualidade, aprender culinária com foco em aproveitamento integral dos alimentos com alto valor nutricional.”

Ecomoda – Na parte da tarde, no mezanino do prédio anexo, aconteceu a oficina de customização com peças jeans usadas. A oficina contou com a presença de servidoras e de menores da FIA. Trabalhando muitas vezes em conjunto, eles deram outra utilidade a calças jeans que viraram bolsas e saias. A Ecomoda funciona desde setembro de 2012, na comunidade da Mangueira, zona norte do Rio. O foco do trabalho são cursos de qualificação profissional na área de moda sustentável reaproveitando banners, fantasias de carnaval, coletes da Lei Seca, jeans, entre outros materiais. Alguns deles foram expostos no local.

O estilista Almir França, coordenador do projeto, contou que o Ecomoda demorou um ano para ser implantado. Durante esse tempo, foi pesquisada a metodologia, o público-alvo e o método de aplicação. “A UPP não é só uma questão de segurança pública, mas de estado. É uma retomada do estado para a população e, por isso, não está ligada só à área de segurança, mas de assistência, direitos humanos, meio ambiente, entre outros temas. A Secretaria de Estado do Ambiente entendeu que um dos programas importantes seria a capacitação e a inclusão dessa população nesse novo modelo do estado”, informou. Até o fim do ano, outras comunidades vão implantar o projeto, inclusive fora da cidade do Rio de Janeiro: Guapimirim, São Gonçalo, Niterói, Paracambi, além de Salgueiro e Rocinha. “O projeto foi pensado para jovens de 16 a 25 anos, mas muitas chefes de família viram no projeto a oportunidade de melhorar de renda”, afirma ao explicar o sucesso do curso.

A oficina no TCE-RJ começou com Almir explicando a diferença entre reciclagem, customização e reaproveitamento. Segundo o estilista, a reciclagem é quando um objeto vira outro totalmente diferente, inclusive no aspecto, após um processo industrial. E citou o exemplo da garrafa PET que vira roupa. A customização é a transformação da peça, como uma calça jeans ao virar uma bermuda. Já o reaproveitamento, para Almir, é a palavra de ordem porque dá mais tempo útil à peça.

Receitas – Quarenta funcionários da firma de limpeza do TCE-RJ e cerca de dez menores da FIA, cada grupo de uma vez, receberam orientações da nutricionista do Tribunal Marta Quintela e do coordenador do Projeto Ecobuffet, Cleber do Espírito Santo. Com uma linguagem adequada a cada público, eles frisaram a importância da boa alimentação, o que inclui a reutilização de talos, cascas e sementes, que em muitos casos têm um valor nutritivo maior do que o alimento em si. Cleber do Espírito Santo destacou que o cansaço e muitas doenças podem ser evitadas a partir de uma boa alimentação. “As doenças podem ser indícios de carências nutricionais”, informou.

Durante a conversa, deu algumas receitas para as atentas platéias, como o nhoque de casca de abóbora. Marta Quintela completou: “Diariamente, cada pessoa joga um quilo de lixo fora. Mas o que vai para o lixo, não é lixo, é alimento cheio de nutrientes e vitaminas, que trazem mais qualidade de vida”, destacou a nutricionista, que sugeriu a inclusão de talos na confecção de arroz, omeletes e suflês. “Não é vergonha nenhuma usar essas partes do alimento. A visita vai ficar tão surpresa que vai querer a receita”, garantiu.

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