A luz que vem de Quixaba

O sertão ainda não virou um mar de rosas. Mas o lamento do sertanejo ecoa em brado bem mais ameno. Até mesmo a Asa Branca não precisa mais bater asas rumo a tristes e, muitas vezes, desvairadas partidas do torrão natal.

Nos últimos tempos, ao lado do famoso luar, que há muito clareava suas veredas noturnas e já fazia do sertanejo um forte, mesmo ante as adversidades naturais, surge uma nova luz. Refiro-me à luz de um novo sol: o “sol” da Educação.

O Santo descrente diria: – só vendo para crer! Pois que veja. Tomé Francisco da Silva é o nome de uma escola estadual, localizada no sertão de Pernambuco, na zona rural da pequenina cidade de Quixaba. A instituição destaca-se nacionalmente pela qualidade do seu ensino. Há alguns anos vem alcançando as melhores médias no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Premiações e reconhecimentos no boletim da escola viraram rotina. Já se disse que “a simplicidade é o último degrau da sabedoria”. Pois o segredo dessa estrela sertaneja está na simplicidade: professores dedicados e motivados, planejamento, gestão e monitoramento educacional, participação efetiva dos pais, estímulo e mais estímulo à leitura e à escrita, incentivo à participação dos alunos em olimpíadas nacionais de conhecimento, tudo isso aliado a um ingrediente fundamental: a vontade coletiva de fazer diferente.

A Escola de Quixaba é “sol de liberdade em raios fúlgidos”, é o habitante da clássica caverna de Platão, que, fazendo diferente, livrou-se dos grilhões e descortinou o mundo do conhecimento. É luz para iluminar nossas esperanças, que, algumas vezes, quedam adormecidas.

Não fechemos os olhos, porém, para outras importantes luzes, que há 25 anos clareiam a nossa “caminhadura” para um futuro melhor: a luz da democracia, a luz da Constituição cidadã, a luz da responsabilidade fiscal, a luz dos órgãos de controle da administração pública, como a dos nossos valorosos Tribunais de Contas, a luz da transparência da gestão e do acesso à informação, a luz da “ficha limpa”.

Por outro lado, não podemos ensaiar cegueiras e nos conformar com cavernas profundas que ainda perduram em nosso país, especialmente as cavernas da burocracia, da ineficiência, da corrupção, da “ética do jeitinho” e da desigualdade social.

A solução exige que as luzes existentes sejam sempre reforçadas e aperfeiçoadas. Mas a energia-prima de todas as luzes é a que emana da clássica “lanterna do pedagogo”. É de uma escola de qualidade que surgirão cidadãos participativos, políticos, estadistas, gestores, empresários e trabalhadores eficientes e honestos, controladores efetivos e justos.

A verdadeira revolução bate à porta. As armas são as escolas e a munição é o conhecimento. Os soldados somos todos nós, liderados pelo comando supremo da Educação. Aproveitemos a hora e o clarão que se abrem na estrada à nossa frente rumo ao bem comum. Miremo-nos no exemplo daqueles guerreiros de Quixaba!

VALDECIR FERNANDES PASCOAL

Conselheiro Vice-Presidente do TCE-PE e da Atricon

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