Utilização de dados e inteligência artificial são o centro de palestra no III CITC

Cerca de 400 pessoas acompanharam, na manhã desta quarta-feira (29) a oficina “Ciências de Dados e Inteligência Artificial: como os Tribunais de Contas estão vivendo essa revolução”, que faz parte da programação do III Congresso Internacional dos Tribunais de Contas (III CITC), realizado em Fortaleza (CE). 

Tema pulsante sobre a evolução da forma como as atividades dos tribunais podem ser otimizadas e aprimoradas, a oficina sobre inteligência artificial foi mediada pelo conselheiro Carlos Neves, do TCE-PE, que reforçou o conceito de que o controle externo já não é mais possível ser feito com eficiência sem o avanço a adoção de ferramentas tecnológicas.

Os palestrantes foram unânimes em mostrar que as tecnologias disponíveis são uma ponte entre os tribunais e os gestores públicos e que estão nos TCs os maiores bancos de dados do país. “O que precisa ser feito, em alguns casos, é fazer o gestor público também inovar, uma vez que 58% deles não avançam na utilização de tecnologias exatamente pelo medo do controle externo”, revelou Neves. 

Confira o que tratou cada palestrante

João Paulo Magalhães, da Cesar School, fez um apanhado histórico da inteligência artificial e da ciência de dados, desde o início das primeiras tecnologias nos anos 1960 até a exponencial utilização da IA nos anos 2020. Na avaliação do professor, o setor público é mais avançado que o privado, e os TCs estão na vanguarda do serviço público neste quesito. “É inviável os TCs terem pessoas para analisar quantidade tão grande de informação. É por isso que a inteligência artificial é relevante, porque ela possibilita avaliar um volume muito maior de dados do que se fosse feito por pessoas. O saber do auditor deve ser utilizado para análises mais críticas dos dados compilados pela inteligência artificial”, disse.

A conselheira Maria Dolores Genaro Moya, do Tribunal de Contas da Espanha, apresentou duas perguntas, e suas respostas, sobre o futuro do uso de inteligência artificial e cruzamento de dados para a evolução do trabalho dos TCs. A primeira delas foi como a IA pode ajudar o TC a realizar o trabalho da instituição de forma mais eficaz e eficiente. Para esta questão, apontou cinco caminhos: processar a informação disponível para obter resultados sobre o objeto do universo fiscalizado; automatizar tarefas de auditoria; conseguir resultados mais imediatos, com redução de prazos; obter mais evidências para minimizar erros; e maior transparência nas análises.

O segundo ponto ainda é embrionário dentro dos TCs, que é como as instituições estão se preparando para fiscalizar os sistemas de inteligência artificial dos fiscalizados. Maria Dolores sugere que os auditores adquiram boa compreensão dos modelos, que entendam as linguagem de decodificação e as incluam nos sistemas de fiscalização e que tenham suporte de apoio tecnológico para o desenvolvimento de ferramentas a partir de suas observações. “Tudo isso deve ser feito sob os cuidados dos direitos à privacidade”, completa. 

O diretor de TI do TCE-SP, Fábio Correa Xavier, ressaltou a importância de saber utilizar a inteligência artificial. Informou que ela pode revolucionar o controle externo, o controle interno e o social. Ressaltou a importância de os TCs aderirem o mais rapidamente ao uso constante da IA e listou 10 aplicações práticas possíveis: análise de grandes volumes de dados; detecção de fraudes; otimização de processos; monitoramento em tempo real; análise de texto; predição de riscos; interação com o público externo; análise de imagens e vídeos (fiscalização de obras); análise de redes sociais; e treinamento e aprimoramento constantes.

George Augusto Valença Santos, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, usou boa parte do tempo da apresentação para interagir com o público a partir de uma “brincadeira” envolvendo inteligência artificial. Disponibilizou na tela um QR code para acesso por celular onde os participantes inseriam termos que, na avaliação deles, estavam mais relacionados com o uso de inteligência artificial nos TCs. A nuvem de palavras foi se formando em tempo real, conforme os dados eram enviados, e ao final constatou-se um resumo das preocupações citadas por todos os palestrantes até então: o uso da IA depende da capacitação de servidores, de recursos financeiros para a implantação, da mudança de cultura dos gestores, da adaptação dos servidores e da segurança do manuseio da informação.

O Congresso

O III Congresso Internacional dos Tribunais de Contas (CITC) ocorre entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. Serão quatro dias de programação, 57 atividades, 102 palestrantes e 1,5 mil inscritos. 

Acompanhe a cobertura completa e apresentações dos painelistas no site da Atricon. As fotos estarão disponíveis no Flickr. A programação pode ser acessada diretamente no site do Congresso e contará com palestras, encontros técnicos, reuniões e outras atividades, como oficinas e capacitação.

O evento é promovido pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas (Atricon) em conjunto com o Instituto Rui Barbosa (IRB), o Tribunal de Contas do Estado do Ceará, Associação Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municípios (Abracom), Associação Nacional dos Ministros e Conselheiros Substitutos dos Tribunais de Contas (Audicon) e Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC), com o patrocínio do Sebrae e da Água Mineral Natural Indaiá.

O apoio é da Associação Nacional do Ministério Público de Contas (AMPCON), do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Contas (CNPGC), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Instituto Dragão do Mar, das Secretarias da Cultura e do Turismo do Estado do Ceará e do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso (TCE-MT).

Texto: Jeferson Cioatto
Edição: Vinicius Appel
Foto: Ribamar Neto