Em instantes você aprende*
A rede mundial de computadores é uma tecnologia paradoxal que liberta, mas prende; aproxima, mas distancia; ensina, mas emburrece; informa, mas engana.
Se quem escreve não tem importância, por vezes, sem importância é o tema escrito. Razão pela qual muitos textos que são colocados na rede recebem a autoria de ilustres personagens para incentivar – quero crer – a leitura.
A frase: “Cabe a nós colocar nossa capacidade em prática e aos demais observar, admirar e invejar” não tão profunda, porém, se a ela for associada à autoria, que é, neste caso, de Ivete Sangalo, de simples frase ela ganha relevância e se transforma em conselho de autoajuda e até em aforismo.
E entre um aforismo e outro, entre um poema e outro, a rede mundial tem me pregado peças. E, na condição de auditor, que sou, sofro.
Como exemplos, cito o texto “Instantes”, atribuído ao escritor argentino Jorge Luis Borges. Posteriormente, constatei, também pela rede, que o poema não foi escrito por ele, mas pela escritora Nadine Stair ou pelo escritor e humorista Don Herold, conforme publicação na Seleções Reader’s Digest de outubro de 1953. Também o poema “Você Aprende”, que, segundo li, seria do dramaturgo inglês William Shakespeare. Hoje constato que é uma adaptação do texto “After a while” (Depois de um tempo) da poetisa americana Veronica A. Shoffstall.
A polêmica está, há muito, lançada na rede, mas será que essa discussão realmente importa? Será que isso não é algo de somenos relevo?
Sei que o “torneiro é mais importante do que o torno”, mas será que sempre o autor será mais importante do que a obra?
Será que não existem criações humanas que são belas, não pela importância de quem as criou, mas simplesmente porque são belas?
Será que, independentemente de quem os escreveu, esses poemas não contribuem para que sejamos pessoas melhores?
Será que, para serem boas, as coisas têm que ser assim […] “uma Brastemp”? Ou seja, somente vale a pena se tiver uma marca, uma grife? Pedindo, aqui, perdão pelo merchandising não intencional.
Será que devemos valorizar o que é escrito pelo sabor que tem (há palavras que devem ser saboreadas) ou pelo nome de quem as escreveu?
São tantos os “serás”, que não adentrarei as questões filosóficas, nada obstante os dois textos demonstrem que, mais relevante do que viver, é saber viver. Ao relê-los, emociono-me. Com eles aprendo que, se eu pudesse novamente viver a minha vida, faria coisas diferentes, pois “devo plantar meu jardim e decorar minh´alma, em vez de esperar que alguém me traga flores”, como também descobri na rede.
Assim, mesmo sem saber quem são os verdadeiros autores dos textos, vale a pena lê-los, porque neles, realmente, você, em instantes, aprende.
*Inaldo da Paixão Santos Araújo. Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Professor. Escritor.