Luiz Henrique Lima
Não há surpresa possível diante da multiplicação de eventos climáticos extremos e adversos, como chuvas intensas, inundações, ciclones, estiagens etc. Os alertas soaram há décadas. Em 2004, quando fiz meu Doutorado em Planejamento Ambiental, na COPPE-UFRJ, tivemos dois semestres de aulas de uma disciplina denominada “Mudanças climáticas”, ministrada pelos professores Roberto Schaeffer e Emilio La Rovere, renomados pesquisadores que representavam o Brasil no IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Revendo o material de estudo, tudo o que presenciamos nos últimos meses, da seca na Amazônia às chuvas no RS, já estava previsto e descrito, não apenas em artigos científicos, mas em relatórios do TCU, documentos de órgãos ambientais e legislativos, além de matérias na imprensa.
Contudo, é sempre importante sintetizar uma mensagem, com linguagem simples e direta. Aí seguem cinco fatos sobre o clima.
1. A Mudança do Clima é REAL.
Não há nenhuma dúvida científica sobre o fenômeno. Se você esbarrar com algum negacionista de mudanças climáticas, tome muito cuidado. Pode ser um louco, um ignorante e/ou um oportunista. Em todos os casos, é uma pessoa perigosa. Como se aprendeu dolorosamente na pandemia, não há negacionismo inocente ou inofensivo,isento de consequências trágicas.
2. A Mudança do Clima é ATUAL.
As mudanças climáticas já estão ocorrendo. Não são um evento para o futuro próximo, em 2030, ou mais distante, em 2050. Não são um problema para as futuras gerações. São um fenômeno real e atual, cujas consequências já colossais ainda poderão agravar-se exponencialmente, caso não adotadas, de imediato, medidas de mitigação e adaptação.
3. A Mudança do Clima é GERAL.
Não imagine que o fenômeno não vai te afetar e que você está protegido, com seu aparelho de ar-condicionado. As mudanças climáticas não vão impactar apenas as nações insulares do Pacífico ou os moradores de palafitas nas zonas costeiras ou ribeirinhas. É o clima do planeta que está mudando e as consequências atingirão a todos, especialmente na economia. Um exemplo? Fabricantes de automóveis no Sudeste tiveram que interromper a produção, pois não estão recebendo autopeças e componentes oriundos de fornecedores do Sul, afetados pelas chuvas.
4. A Mudança do Clima é RADICAL.
As mudanças climáticas não são um fenômeno passageiro, ocasional ou superficial. São profundas, crescentes, cumulativas e permanentes. Exigirão significativas mudanças na estratégia das empresas, envolvendo processos produtivos, logística e relacionamento com stakeholders. Exigirão importantes redefinições de políticas públicas e de seus marcos regulatórios.
5. A Mudança do Clima é MULTIDIMENSIONAL.
As mudanças climáticas afetam mais que a meteorologia. Afetam a economia, desde a produção agropecuária ao funcionamento de portos e aeroportos. Afetam a saúde, com a disseminação de vetores. Afetam as políticas urbanas com o deslocamento de populações inteiras de bairros, cidades e regiões afetadas. Afetam a defesa e a segurança nacional. Portanto, o esforço de mitigação e adaptação não é setorial, mas deve ser coletivo e coordenado.
Assim, há muito trabalho a ser feito. Cada um de nós pode contribuir de alguma forma, todos os dias, reciclando seus resíduos, descarbonizando suas atividades e bens de consumo e, principalmente, exigindo que nossos representantes coloquem a preservação ambiental como prioridade real em todas as suas decisões e ações.
Luiz Henrique Lima – Conselheiro Substituto do TCE-MT e professor.