Gastos com SUS estão sob maior vigilância do TCE de Pernambuco

DE OLHO NA SAÚDE

Tribunal de Contas do Estado produziu ferramenta que cruza informações do Ministério da Saúde e mostra o desempenho municipal

IPOJUCA Na cidade com maior gasto per capita com saúde e onde a população cresce rapidamente, policiais militares improvisam transporte de acidentado ao Hospital de Nossa Senhora do Ó por causa da demora de ambulância do Samu

Foto: Rodrigo Lobo/JC Imagem

O novo instrumento de análise do Tribunal de Contas do Estado mostra Recife como a capital do Nordeste que investiu menor proporção do seu orçamento em saúde no ano passado. Chegou ao mínimo constitucional de 15% graças ao arredondamento feito pelo Ministério da Saúde. Aplicou 14,95% enquanto Fortaleza (CE), Natal (RN), São Luís (MA) e até Teresina (PI) ultrapassaram a casa dos 20%. Em 2011 gastou R$ 370,69 por cada um de seus habitantes. Nessa conta é maior apenas que Salvador (R$ 319,88).

Tem prefeitura aplicando menos. São Lourenço da Mata, cidade da Copa do Mundo de 2014, investiu só R$ 151,53 per capita em 2011, embora tenha ultrapassado os 15% do orçamento. Já a saúde de Ipojuca recebeu de sua prefeitura R$ 851,62 por habitante, maior valor entre todos os municípios pernambucanos. Lá, 17,3% da arrecadação foram para o SUS. Embora tenha o maior gasto per capita, Ipojuca não atende sua população como ela gostaria. “Muita coisa mudou, mas com a riqueza que temos não deveria haver tanta dificuldade”, diz o armador José Sales, comparando a rede de assistência e os grandes empreendimentos de Suape. No ano passado, a esposa dele fez cirurgia para retirada de mioma (tumor no útero) em Escada, município vizinho. No dia em que a reportagem visitava a cidade, um idoso, usuário de marca-passo e passando mal, esperou quatro horas pela remoção à capital esperando ambulância com UTI disponível. A do Samu tinha saído para levar outro doente ao Recife. Na mesma tarde, policiais desistiram de esperar o socorro para um acidentado na estrada e eles mesmos buscaram uma maca no Hospital de Nossa Senhora do Ó. Moradores reclamam de dificuldade para acesso a exames.

“Há dois anos sinto caroço na mama. Já fiz ultrassom e não deu nada. Não liberaram mamografia alegando que eu não tenho idade. Insisti e o médico do posto me encaminhou ao especialista. Mas só terá vaga no próximo mês”, contou Maria Inês de Santana, 36 anos, residente no centro. Josenildo de Souza, da área rural, não tem posto de saúde perto de casa. “Espero há mais de 20 dias para marcar consulta”, reclamava no ambulatório geral, que funciona em casa alugada. O serviço recebe até 250 pessoas por dia, informou a diretora Célia Vanderley. Embora sejam mais de 20 especialidades, a demanda é grande. Ela garante, no entanto, que a espera não extrapola 30 dias. O secretário municipal de Saúde, Frederico Miranda, diz que a prefeitura tem se esforçado para acompanhar a demanda que cresce com a chegada de novos moradores atraídos por empregos formais e informais em função de Suape. “Mesmo aqueles com plano de saúde acabam usando nossa rede pública porque não há hospital particular”, explica. O censo do IBGE contou pouco mais de 80 mil habitantes em 2010, mas há população flutuante. “Em pouco tempo acredito que chegaremos a 200 mil.”

O cruzamento de dados feito pelo TCE mostrou que despesas com terceirizados cresceram de 2005 a 2011. Representam 33,9% do total de gastos de Ipojuca com saúde, contra 59,4% aplicado no pagamento de folha de pessoal. “Ampliamos a cobertura do PSF para 70%, fizemos concurso, contratamos serviços de diagnóstico e estamos informatizando toda a atenção básica. Além disso inovamos com o dentista em casa e a vacinação de adolescentes contra HPV, vamos implantar uma UPA e temos cinco pronto-atendimentos”, contabiliza Miranda.

Em São Lourenço da Mata, de mesmo porte populacional, onde os recursos aplicados em 2011 são cinco vezes menores que os de Ipojuca, o hospital municipal foi reaberto este ano e criados novos serviços, como Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e residência terapêutica. “Temos 16 postos do Saúde da Família, vamos abrir mais cinco este ano para ter cobertura de 85%”, afirma a secretária de Saúde, Tereza Bezerra. No entanto, também há moradores insatisfeitos. “Há mais de um ano sinto dores de cabeça e não consigo consulta com neurologista”, conta Vera Lúcia Onório, 45. Maria do Carmo de Souza, do Parque Capibaribe, diz que não há dermatologista nem transporte do SUS para levar a filha, com transtorno mental, ao Caps.

Confira entrevistas sobre o lançamento do Portal da Saúde, com Lindinere Ferreira, gerente de Avaliação de Programas e Órgãos Públicos do TCE, com João Robalinho, e com o coordenador de Controle Externo do TCE, Rômulo Lins, a partir deste link.

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