Cláudia Colavolpe
Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
Que canta mais docemente
(O Lado Quente do Ser – Antônio Cícero e Marina Lima)
Neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, que simboliza a luta das mulheres contra a desigualdade, a violência e o machismo, senti-me, enquanto mulher que sou, compelida a falar um pouco sobre isso.
E como essa luta está diretamente ligada às causas trabalhistas, ainda que seja uma questão árdua para a maioria das mulheres, o meu lado esperançoso e otimista leva-me a tratar de uma experiência que considero exitosa.
Não quero com isso romantizar a data, ainda que não ache pejorativo nem excludente a boa dose de romantismo na nossa vida diária. Quero apenas encorajar outras mulheres a lutarem pelo que desejam, a acreditarem que é possível e a perceberem que a força está dentro delas.
Evidentemente que o dia da Mulher é um marco, pois, apesar de a mulher ser merecedora de homenagens todos os dias, é fundamental ter uma data específica para dizer à sociedade que existimos, que estamos vivas, que temos voz e que somos mais do que necessárias.
Desde muito pequena fui incentivada por minha mãe a lutar pelos meus objetivos, a não depender do outro nem a desejar o que dele é, a correr atrás dos meus sonhos, a estudar, a batalhar e a ser independente.
Por isso, sempre quis o que é meu, fruto do meu próprio trabalho, sem que o fato de ser mulher me diminuísse ou me fizesse crer que algum homem pudesse ter mais capacidade do que eu ou que tivesse a obrigação de me prover.
As pessoas são o que são. E assim sendo, cada um é fruto da sua história, da sua índole, da sua capacidade de buscar o seu desenvolvimento pessoal e intelectual, de evoluir e de crescer.
Paralelamente a isso, não deixei de me apaixonar, de me casar com a pessoa que amava e ainda amo, de ter meu filho tão sonhado, de ter meus momentos de lazer, de estar rodeada de amigos e amigas, jogando conversa fora, amparando e sendo amparada nos momentos mais difíceis, tornando, reciprocamente, as nossas vidas mais leves. Enfim, o meu mencionado lado romântico sempre esteve presente e não quero dele me distanciar.
Também nunca deixei de admirar o universo masculino nem nunca achei que o feminino estava acima de tudo e de todos.
Acho que homens e mulheres se complementam e são necessários uns aos outros por suas diferenças, por seus pontos de vista nem sempre convergentes. Afinal, a gente cresce quando debate, discute e percebe que ninguém é infalível, que ninguém é cem por cento dono da verdade.
Assim como convivo com mulheres maravilhosas, convivo com homens igualmente incríveis, respeitosos, amorosos e a quem muito admiro: meu pai, meu marido, meu filho, meu irmão, além de amigos e colegas excepcionais.
Como mãe, tive sempre o cuidado de mostrar a meu filho o quanto as pessoas precisavam ser respeitadas e valorizadas, especialmente as mulheres, para que o machismo jamais imperasse nas suas relações, e ele é a prova viva de que esse respeito se inicia em casa e de que a educação que damos aos nossos filhos é essencial para termos um mundo mais justo, mais igualitário e sem preconceitos de qualquer espécie. Vejam o quanto somos responsáveis por isso.
Assim, o que acho importante na nossa luta é o respeito, é a igualdade de direitos, é a valorização do nosso papel tanto quanto o daqueles que realizam as mesmas atividades.
Não posso negar que tive uma sorte grande ao trabalhar em um órgão, o Tribunal de Contas do Estado da Bahia, onde, no gabinete em que exerço minhas atividades, me sinto respeitada e minha voz é ativa.
Lá exerço a chefia do gabinete do Conselheiro Inaldo Araújo, um verdadeiro conselheiro, na expressão mais pura da palavra, que, apesar de ser homem, sempre se associou às causas femininas e, não à toa, a sua chefe de gabinete, no caso eu, é uma mulher.
Sei que poucos têm essa sensibilidade e percebo que não se trata de ser mulher ou não, de ser feminista ou não, mas de que a pessoa tenha inteligência emocional suficiente para saber que o lado feminino, aliado ao masculino, é fundamental para uma visão mais completa do problema e para a melhor solução.
O nosso gabinete tem o equilíbrio em número de homens e mulheres, e todos, absolutamente todos, têm a mesma voz, o mesmo direito e o mesmo poder.
Com isso quero dizer, mulheres, que a nossa luta é dura, a dupla jornada que a maioria de nós enfrenta não é fácil, mas que não podemos esmorecer nunca.
A nossa voz deve ser sempre ativa e, se sermos respeitadas é um dever que o outro deve ter para conosco, exigir respeito é um dever nosso também.
Se não tiverem a sorte que tive de conviver em um ambiente salutar e respeitoso, denunciem, esbravejem, gritem e mostrem que o “sexo frágil não foge à luta”.
E se as homenagens rendidas a vocês nessa ocasião for uma panela, uma colher de pau ou um kit de costura, não se sintam desvalorizadas, mas façam do limão uma limonada, mostrando a que vieram, que não estão para brincadeira e que “não provoque”, pois, como disse Rita Lee, uma mulher de força que tanto nos representa, ser mulher é ser “cor-de-rosa choque”. Somos fortes e poderosas e jamais poderemos nos esquecer disso!!
Cláudia Colavolpe – Auditora de Contas Públicas e Chefe de Gabinete de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia.